Nicolau Maquiavel (1469-1527)
Pensador renascentista. Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, filho de Bernardo, advogado, membro empobrecido da nobreza toscana. Sua educação foi marcada pelo estudo dos clássicos latinos. Em 1494, com a instalação da república em Florença, governada pelo monge Savonarola, Maquiavel iniciou-se na vida política, exercendo funções secundárias na chancelaria.
Com a deposição de Savonarola, passou a assumir cargos decisivos na política de sua cidade, sendo nomeado Segundo Chanceler. A aliança entre França e Florença contra a cidade de Pisa introduziu Maquiavel na arte da diplomacia e da política internacional. Suas embaixadas junto a César Bórgia, filho do papa Alexandre VI e um dos mais poderosos condottiere de seu tempo, forneceram ao pensador a imagem do governante ideal para realizar a unificação da Itália, que Maquiavel reputava como condição indispensável para a promoção de seu desenvolvimento político, social e econômico.
César Bórgia encarnou, assim, o modelo de chefe de Estado descrito em O Príncipe, considerado a obra-prima deste pensador. Maquiavel foi o responsável pela criação de uma milícia florentina, composta de cidadãos e não mais de mercenários estrangeiros, como era comum na Itália daquele tempo.
Foi designado chanceler de um organismo militar, denominado Nove das Milícias.
Com a eclosão de um levante pela reinstauração da casa de Médicis, Maquiavel foi destituído de seu cargo e confiado a sua propriedade particular. Ali, escreveu a maior parte de suas obras, incluindo O Príncipe, com o qual presenteou Lourenço de Médicis, tentando conquistar os favores do novo governante e, simultaneamente, tentando influenciá-lo na compreensão de qual deveria ser seu objetivo central, a unificação.
Retornando a Florença, em 1520 foi designado historiador oficial da república florentina. Sete anos depois, o Sacro Império Romano-Germânico libertou Florença da dominação dos Médicis. Apesar de sua pretensão em voltar a assumir a chancelaria junto ao novo governo, Maquiavel foi destituído de cargos políticos.
Faleceu neste mesmo ano. Sua obra é vasta, voltando principalmente para a compreensão da história e de temas políticos, constando ainda de escritos de literatura e teatro. Algumas de suas principais obras teóricas: Discurso sobre a preparação militar florentina, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, A arte da guerra, Vida de Castruccio Castracani, Histórias florentinas.
O pensamento político de Maquiavel entrou para a história de maneira caricatural e deturpada, tendo o seu nome servido à criação do adjetivo maquiavélico, sinônimo de dissimulação, falta de escrúpulos e oportunismo. Famosa, para ilustrar este preconceito, é sua afirmação de que os fins justificam os meios.
Contudo, é preciso dimensionar corretamente a importância de Maquiavel. Seu pensamento expressa, pela primeira vez na história da filosofia, a compreensão de uma ética que não se encontra fundada em valores supremos, mas que possui como solo as necessidades políticas de cada nação. Se há um bem, posto como finalidade na obra de Maquiavel, este não possui caráter absoluto; antes, o bem é imposto pela contingência histórica de uma nação em um determinado momento de seu percurso.
Na compreensão deste autor, o bem a ser procurado em sua época é a construção de uma nação italiana unificada, regida por um só governo, possuindo uma só lei e um só exército. O bem não pode ser buscado na natureza humana tomada em seu aspecto individual, pois é da natureza humana buscar, por princípio, o prazer individual imediato, cuidando cada um de seus próprios interesses.
Se o bem pode ser identificado com a ordem harmônica de um Estado fortemente constituído, não há, no entanto, uma forma ideal que este deva alcançar. A excelência de um modo de organização depende da constituição do povo governado, e das relações entre estes e seus governantes. É preciso sempre observar qual o melhor modelo a adotar em cada situação particular.
A liberdade é, assim, oriunda das relações dinâmicas entre governantes e governados.
A excelência política de um governante funda-se na posse da virtù. Esta é compreendida como a capacidade de entrar em sintonia com a fortuna, que designa, por sua vez, os percalços da história, compreendida como sucessão de desdobramentos cíclicos e retornos, nos quais intervém, inesperadamente, o acaso, operando mudanças de rumo e perspectiva.
O homem de virtù é aquele capaz de agir conforme o momento propiciado pela fortuna, de modo a usá-la para realizar a necessidade demandada por sua circunstância. Neste sentido, os valores éticos são submetidos a sua aplicabilidade prática. Será designado “bom” o governante capaz de cometer o mal tanto quanto o bem, na medida que um ou outro forem necessários ao bem maior: a manutenção de um Estado forte e coeso.
Até os dias de hoje, múltiplas foram as interpretações da obra de Maquiavel. Proibido pela Contra-Reforma, considerado um defensor do regime republicano pelos enciclopedistas franceses do século XVIII, tornado herói nacional pelo Resorgimento italiano no século passado, transformado por Mussolini em precursor do fascismo, o seu pensamento permanece aberto às mais diversas compreensões.
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O Príncipe (inspirado na vida de César Bórgia)