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Espiritismo Literatura e Leitura 28/12/2004 (00087)
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Dias atrás estava assistindo a um programa espírita na TV, ouvindo o bate-papo de duas alegres figuras. Uma, ocupava o posto de entrevistador e a outra de entrevistado. Entre os muitos assuntos comentados, surgiu o "casamento". A seguir, a separação de casais. A questão levantada foi a de como proceder frente a uma experiência conjugal que não está dando certo. A opinião de ambos foi nada menos que desastrosa. Disseram sem a maior cerimônia que, nesses casos, a pessoa tem o direito de viver outras experiências procurando acertar ao lado de uma outra e, para infelicidade do Movimento Espírita, afirmaram que o Espiritismo nada proibia.

Os espíritas de um modo geral são pessoas sensatas. Claro, os que viram a cena devem ter entendido que estavam colocando ali opiniões pessoais a respeito do assunto. Mas e quem era leigo, o que foi que pensou? Certamente que o Espiritismo é a favor dessa onda de separação que há tempos vem sendo encarada com surpreendente normalidade, com acentuada desvalorização da família. Logo, que deve ser mesmo coisa do Diabo como dizem. Brincadeiras à parte, é preciso que as pessoas que vão à TV, seja para dar entrevistas ou para serem entrevistadas, tenham um mínimo de bom-senso, para separar aquilo que é opinião pessoal, do que nos recomenda a Doutrina Espírita.

Ao que se sabe, o Espiritismo é o desdobramento da Doutrina de Jesus. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, foi claro em dizer que nós, espíritas, vemos com naturalidade o divórcio, pois que ele separa aquilo que já está separado de fato. Porém, faz uma ressalva, dizendo que o divórcio se aplica apenas nos casos em que a Lei Divina não é considerada. Isso vale dizer que, quando se considera a Lei de Deus – e nós espíritas a consideramos – a situação precisa ser vista de forma diferente. São detalhes que passam desapercebidos.

Nas minhas vivências no Movimento Espírita deparei-me com situações inusitadas no campo do relacionamento conjugal. Muita gente conhecida tem uma vida de separações e infelicidade conjugal. Como sempre, os problemas aparecem por causa da má formação do homem. E os trabalhadores, dirigentes espíritas e pessoas que atuam no campo da divulgação do Espiritismo não estão livres deles, claro. Como cada um acha o que bem entende dos princípios ensinados, com freqüência aparecem aqueles que colocam opiniões meramente pessoais como se fossem do Espiritismo. O prejuízo é indiscutível.

Dentre as anomalias encontradas nesse setor do comportamento humano, dentro das casas espíritas, a mais grave é a velha e carcomida história das almas gêmeas. O móvel da ação geralmente é um homem. Com freqüência, um trabalhador ou dirigente espírita. Depois de servir por anos a fio nas lides espíritas, ele fica conhecendo uma mulher (freqüentemente na própria casa espírita) sobre a qual sente atração irresistível. Se houver afinidade entre ambos, basta a influência dos Espíritos inferiores para logo estarem apaixonados. Como não há um motivo justo para acabar com o casamento, saem-se com a capciosa tese de que encontraram a alma gêmea. Uma pessoa que conhecemos, chegava a dizer para a esposa que ela teria sido um "carma" em sua vida. Tendo vencido o tempo, sentia-se na condição de liberdade para voar junto de sua alma gêmea, que naturalmente sempre é mais jovem e atraente que sua antiga esposa. Nunca se viu o contrário. É o ser humano dando jeito de arrumar as coisas ao seu modo, para atender suas conveniências.

Quando se faz um exame das bases que sustentam o Espiritismo, verifica-se que suas raízes assentam-se na Doutrina revelada por Moisés (aspecto divino) e por Jesus. Desde a revelação dos Dez Mandamentos, percebe-se uma acentuada preocupação da Espiritualidade com a manutenção da estabilidade familiar. Nos Mandamentos, já havia condenação para o adultério e mesmo para o simples desejo da mulher alheia. Jesus, ao responder aos fariseus acerca da permissão de separação encontrada na lei civil de Moisés, afirmou que a coisas tinham sido colocadas nesses termos por causa da dureza dos corações, o que quer dizer: separação sim, mas aceitável apenas quando se está sob o império do atraso e da ignorância espiritual.

Deixando o passado de lado e aproximando-nos do presente, temos em mãos inúmeras obras de Espíritos esclarecidos e autores encarnados de idêntica condição, que zelam pelos princípios exarados dos ensinamentos da Espiritualidade superior, quanto à importância de se dedicar à vida familiar e tudo fazer para mantê-la estável. Felicidade em família geralmente se consegue com esforço conjunto. Raramente ela vem pronta.

Se alguém vem a público dizer que o Espiritismo nada condena e que o casamento fracassado pode ser desfeito com a maior naturalidade, está prestando um desserviço à causa espírita e cristã. A Doutrina Espírita não proíbe nada. Isso é uma verdade. Mas, deixa muito claro as conseqüências da irresponsabilidade de cônjuges que se deixam dominar pelos seus instintos, pela sua má vontade e resolvem pôr fim a uma relação proposta pela lei de causa e efeito para impulsioná-lo ao progresso.

Ao se estudar os fenômenos ligados à transformação do planeta Terra em um mundo de regeneração, encontra-se um sinal inequívoco de enfraquecimento do casamento. Esse espírito está presente hoje nos meios de comunicação com força impressionante, vem destruindo a célula fundamental da sociedade e fala pela boca de muita gente desavisada. Os religiosos, de maneira geral, já perceberam sua ação e procuram combatê-lo em seu meio. Nós espíritas, temos de agir do mesmo modo.

Nos tempos do fim, da família pouco restará. Há coisas que não poderemos mudar e que serão modificadas por força das circunstâncias. Mas existem outras, que é um verdadeiro dever modificá-las. Se somos espíritas professos, melhor observarmos a Lei, que é nossa suprema autoridade. Se temos problema de relacionamento conjugal é aconselhável buscarmos na Doutrina e nas obras espíritas, a solução necessária. E vamos espalhar nas casas que freqüentamos, que não se deve acreditar em tudo o que se diz por aí, em nome do Espiritismo. Na dúvida, melhor consultarmos os livros e o bom-senso recomendado por Allan Kardec.

Texto publicado no site em 29/01/99

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