Montaigne (1533-1592)
Michel Eyquem de Montaigne, filósofo renascentista. Michel de Eyquem nasceu no castelo de Montaigne, nas cercanias de Bordeaux, filho de burgueses enobrecidos. Recebeu educação esmerada, voltada para o ensino das letras clássicas. Em 1554, graduou-se em Direito, atuando como advogado e, posteriormente, como conselheiro, no tribunal de Périgord e no Parlamento de Bordeaux.
Tentou seguir carreira como cortesão, sem obter sucesso. Igualmente desgostoso com a carreira parlamentar, retirou-se para o castelo de Montaigne, em 1570. Aí, iniciou sua produção literário-filosófica, interrompida quatro anos depois. De volta à vida na corte, participou da batalha de Bas-Poitou, contra os huguenotes.
Exerceu funções diplomáticas e administrativas, assumindo o cargo de prefeito de Bordeaux, de 1581 a 1585. Regressou então a sua propriedade, onde pôde dar continuidade a sua obra, submetendo-a a constantes modificações e revisões. Faleceu durante uma missa celebrada em seu próprio quarto. Seus escritos principais são uma vasta série de Ensaios, onde Montaigne move-se com total liberdade pelos mais variados temas, além de um texto intitulado Apologia de Raymond Sebond.
O pensamento de Montaigne afirma o ceticismo do homem diante da revolução de todos os paradigmas, considerados eternos pelos séculos anteriores. Se a ciência renascentista rompe com os princípios que sustentaram toda a concepção filosófica, científica e teológica do mundo antigo e medieval, ela não pode, por sua vez, constituir um novo princípio de racionalidade.
Sua maior contribuição reside em mostrar ao homem a fragilidade de fundamento sobre o qual, tão facilmente, ele constrói sua estruturação racional. Montaigne utiliza as descobertas científicas de seu tempo para afirmar a mudança como a única constante do espírito humano. Deste modo, se a razão se mostra limitada, por outro lado estes limites são sempre cambiantes.
Seu ceticismo apresenta, assim, o caráter de uma busca continuamente renovada. Sua crítica não possui caráter pessimista; ela não incide sobre a ciência no tocante a sua pesquisa ou resultados, mas sim à pretensão de encontrar um princípio sólido e inabalável, que faça cessar a necessidade de investigação radical.
Diante da constatação da mudança intrinsecamente presente em toda a realidade, para onde o filósofo deve voltar-se? Nem mesmo a natureza, fundamento da concepção estóica, pode servir de guia; a natureza humana, se existe, não pode ser conhecida. As leis naturais não governam o homem, pois este em tudo faz intrometer-se a razão, que passa a dominar o fluxo da vida humana, impondo suas próprias leis.
Tampouco a religião, a política e a moral são capazes de oferecer um princípio seguro; suas diferenças fazem ressaltar seu caráter arbitrário, que não resiste a um exame radical. A filosofia de Montaigne volta-se, então, para o estudo do homem em si mesmo, fora de qualquer concepção que empreste a este uma predeterminação, de que espécie seja.
Segundo este pensador, não há descrição que se assemelhe em dificuldade à descrição de si mesmo, nem, certamente, em utilidade. Assim, seus Ensaios constituem a tentativa de apreender os processos de variação e mudança ocorridos no espírito humano, cujo maior propósito deve ser a aquisição de um conhecimento de si próprio, calcado na aceitação de seus limites.
Tanto o pensamento quanto o estilo inaugurado por Montaigne influenciaram decisivamente a filosofia e a literatura na Modernidade. Seu ceticismo pode ser considerado inspirador da dúvida cartesiana. Influenciou explicitamente os escritos de Montesquieu, Voltaire, Chateaubriand, Stendhal (1783-1842), Leopardi e Emerson.
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