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Blaise Pascal (1623-1662)

Pensador moderno. Blaise Pascal nasceu em Clemont-Ferrand, filho de Etienne Pascal, matemático e jurista. Recebeu de seu pai educação esmerada, voltada, durante a infância, para a gramática e as línguas clássicas. Aos 8 anos, mudou-se para Paris com a família. Aprendeu sozinho os fundamentos da geometria, indo até a descoberta e demonstração da proposição 32 do Livro I dos Elementos de Euclides.

Dedicou-se, durante toda a vida, a estudos matemáticos e físicos: inventou uma máquina aritmética; realizou estudos sobre o vácuo; formulou o cálculo das probabilidades, elaborando o Triângulo que leva seu nome; realizou experimentos em hidrostática que impulsionaram o estudo da mecânica dos fluidos; efetuou uma investigação matemática sobre a área da ciclóide, cujo método permitiu a descoberta, posteriormente, do cálculo integral.

Em 1652, sua irmã, Jacqueline, entrou para o convento; nesta mesma época, intensificou-se a “vida mundana” de Pascal, voltada para o convívio social e para os estudos científicos, no cultivo do que ele próprio denominou esprit de finesse. Por influência de sua irmã, Pascal acabou por unir-se aos jansenistas de Port-Royal aos 32 anos, abandonando a vida social e mundana e dedicando-se a investigações teológicas, marcadas por forte caráter apologético.

Condenada esta corrente religiosa pelo papa Alexandre VI, Pascal volta a dedicar-se à ciência, mantendo seus questionamentos religiosos. Algumas de suas principais obras são: Colóquios com o senhor de Saci sobre Epicteto e Montaigne (1533-1592), Provinciais, Pensamentos.

O pensamento de Pascal parte da consideração acerca do método capaz de instaurar um conhecimento seguro da realidade, preocupação comum à quase totalidade dos filósofos do século XVII. Contudo, sua posição é original: ele afirma cada problema proposto requer um novo esforço de invenção, o que o leva a negar a existência de um método único, diretor da razão.

Logo, há tantos métodos quanto questões por resolver. Para encontrá-los, é preciso ser dotado de espírito, a capacidade de abordar determinado problema desde seu âmbito próprio de resolução. Contudo, não há uma única modalidade de espírito científico.

Pascal distingue o espírito geométrico, capaz de descobrir as relações entre as figuras e mover-se dentro de uma pluralidade de princípios, de modo a resolver, deste modo, problemas matemáticos, de um espírito de justeza, aplicável aos problemas relativos à hidrostática; este, compreendendo um único princípio, é capaz, no entanto, de segui-lo, de forma a acompanhar até suas conseqüências e efeitos mais sutis.

Para outros estudos, de nada valem os princípios; nestes casos, como demonstram as experiências de Pascal com o vácuo, a capacidade de encontrar resoluções reside, apenas, no poder da experimentação.

No âmbito dos conhecimentos pragmáticos e cotidianos, é preciso ainda um outro espírito, que não pode ser reduzido ou menosprezado pelos espíritos relativos às diversas ciências: é o esprit de finesse (espírito de finura), que capta os problemas intuitivamente, de relance, sem contar com o discurso sucessivo e racional.

Opondo-se à universalidade do método cartesiano, cada espírito, na concepção de Pascal, possui caráter exclusivo: cada um serve apenas para seu próprio domínio de atuação, podendo ser considerado uma especialidade.

Contudo, nenhum destes espíritos pode conduzir a um conhecimento do homem, no que concerne à sua humanidade. O homem não pode alcançar o princípio de seu próprio ser, uma vez que é uma criatura de paradoxos, estando a meio caminho entre o finito e o infinito, entre Deus e a besta, glória e escória do universo.

O homem é feito da incoerência que une força e fraqueza, o nada e o infinito. A maneira como o homem pode apreender sua própria natureza não pode, portanto, ser a razão, faculdade que não tolera o paradoxo; Pascal aponta a existência de uma outra faculdade, mais fundamental, por onde somente pode o homem encontrar-se: tal é o coração.

Este não corresponde às paixões e sentimentos, pois estas obscurecem todo conhecimento; o coração é, antes, uma inteligência, que, mais que um conhecimento dos princípios, proporciona um modo seguro de acolher os conhecimentos, reconhecendo sua verdade de modo intuitivo e imediato. Antes de ser oposto à razão, ele é a condição que permite àquela instaurar-se.

Neste sentido deve ser compreendida a famosa a frase de Pascal: o coração tem razões que a razão desconhece.

A fé constitui um conhecimento alcançável pelo coração, único meio de lidar com o dilema da condição humana. O meio de propiciar aos homens o acesso à fé, tarefa do apologista, não pode ser o da demonstração, uma vez que não se trata de obter uma compreensão racional da divindade; trata-se, antes, de uma persuasão.

Para realizá-la, Pascal lança o argumento da aposta: considerando iguais as probabilidades para que a religião cristã seja verdadeira ou falsa, o homem deve proceder como um jogador, e considerar o que tem a perder e a ganhar, num e noutro caso.

Por este raciocínio, chega-se à conclusão que o ganho em apostar na falsidade desta religião, que leva à desobrigação em cumprir os deveres cristãos, é mínimo, se comparado à salvação eterna, ganho advindo da verdade de seus preceitos.

Assim, o bom jogador deve ter interesse em apostar na hipótese verdadeira.

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Blaise Pascal (Escritor da França)(wiki)

Blaise Pascal (França)
Obra:
Blaise Pascal - O homem perante à natureza (22K) (pdf)
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Fonte: •Enciclopédia Digital 99 • ( Literatura e Leitura ) •