Período na história e evolução das artes que se estende de 1600 até 1750 D. C. Posterior à Renascença, produziu na música compositores como Caccini, Gabrielli e Monteverdi, na fase inicial.
Purcell, Lully, Handel, Vivaldi e Bach são os autores da segunda fase. Em termos formais foram produzidos Oratórios, Missas, Paixões e Cantatas. O Baixo Contínuo e o Contraponto, o Prelúdio e a Fuga atingem o seu apogeu.
Barroco em Diversas Regiões no Brasil
O barroco manifestou-se também de forma característica fora dos grandes centros da colônia, porém normalmente bem mais tímido. Pode ser citado, por exemplo, Goiás com seu barroco mais simples e José Joaquim da Veiga Vale que, embora tenha nascido no século XIX, afinava-se com o estilo. Auto-didata, realizava obras religiosas como "São José de Botas". Uma das características fortes de suas imagens era usarem um manto com estampas douradas, estampas estas diferentes entre si.
No Sul destaca-se a influência das Missões Jesuíticas, que transmitiam aos nativos técnicas artísticas européias. Algumas obras revelam espantosa capacidade de assimilação dessas técnicas unidas à sensibilidade e originalidade indígena. Algumas esculturas e cerâmicas produzidas então sobreviveram aos massacres bandeirantes.
Já São Paulo, isolado durante esse período, mostra uma arquitetura extremamente simples e peculiar. Seus melhores exemplos são estabelecimentos rurais e construções jesuítas de grande porte, como o Conjunto da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Embu. Tipicamente paulista eram ainda santos de bairro cozidos, conhecidos como "paulistinhas", de postura hierática. Possivelmente frei Agostinho da Piedade em passagem pelo estado, originou a prática.
Barroco em Minas Gerais
O barroco mineiro merece destaque especial na História da Arte Brasileira. Em Minas Gerais o ciclo do ouro estimulou a criação artística e o sentimento nacionalista e o barroco revelou um de nossos maiores artistas: Aleijadinho.
Um dos traços mais admirados do barroco em Minas foi a inventividade das soluções para a harmonização da arquitetura com a escultura e pintura e, principalmente, a enorme qualidade obtida através da união de influências ibéricas a traços que já despontavam de nossa cultura nacional.
Minas Gerais até o ciclo da mineração era uma região ignorada pela metrópole. Com a descoberta de ouro passou a atrair pessoas das mais diversas regiões da colônia, além de portugueses sonhando com a riqueza fácil.
A metrópole portuguesa proibia a existência de grandes ordens religiosas na região, visando proteger suas riquezas das autoridades eclesiásticas. Para satisfazer as necessidades religiosas dos habitantes, começaram a surgir associações religiosas leigas, ordens terceiras, irmandades e confrarias que rivalizavam entre si. Uma das maneiras de prevalecer sobre as demais era a construção de vistosos templos. Além disso eram proibidas ainda a imprensa e as escolas. Os mineiros, então bastante isolados, realizavam suas obras com grande liberdade, devendo pouco a modelos consolidados e podendo inventar uma tipologia característica. Esses fatores foram importantes para a evolução do barroco no estado.
As grandes matrizes foram as primeiras a serem construídas nos principais centros mineradores como Caeté, Mariana, Vila Rica do Pilar (atual Ouro preto) e Sabará. Vila Rica, então capital de Minas Gerais, tinha mesmo duas matrizes: uma mais antiga, a Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias e a Nossa Senhora do Pilar, um dos mais belos exemplos barrocos mineiros, com sua incrível talha dourada.
Entretanto, merecem destaque especial na exemplificação do barroco-rococó mineiro principalmente as capelas das Ordens Terceiras e Irmandades. Destacam-se a capela Franciscana de Vila Rica e a da Igreja da Ordem Terceira de São João Del-Rei.
Entre as igrejas mais pitorescas que podem ser visitadas em Ouro Preto estão a Igreja de Santa Efigênia e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, as duas de irmandades de negros, de original simbologia reveladora de influências da cultura africana.
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho é o principal nome do barroco mineiro e um dos principais nomes da arte brasileira. Destacam-se as esculturas que realizou para o conjunto do Bom Jesus do Matosinho, em Congonhas do Campo, como uma de suas principais obras-primas.
Na pintura, Manuel da Costa Ataíde e seus santos e anjos com traços mulatos são outro grande destaque do barroco mineiro. Além dele podem ser citados o português José Soares de Araújo e o uso de ouro para pintar as igrejas de Diamantina, João Batista de Figueiredo e Silvestre de Almeida Lopes.
Barroco Literário
A oratória de caráter sacro, a prosa e a poesia tomam impulso sob influência barroca. Este período foi caracterizado por uma intensa atividade econômica, política e social, notadamente na Bahia e nas diversas regiões do nordeste brasileiro. O barroco brasileiro ainda se encontrava fortemente atrelado ao movimento das idéias acadêmicas européias, e se constituiu praticamente de um mimetismo das formas literárias européias. No entanto, algo da cor local brasileira já surgia, como se observa em Gregório de Matos, poeta satírico que foi considerado o Villon brasileiro.
Manoel Botelho de Oliveira escreveu Ilha da Maré,que de forma descritiva ilustra a natureza tropical do Brasil.
Na oratória sacra surgem os jesuítas Padre Eusébio de Matos, irmão de Gregório, e Padre Antônio Vieira, que escreveu Os Sermões, publicados em quinze volumes.
Barroco na Alemanha
O Barroco na Alemanha começou muito tardiamente em relação ao resto da Europa. Isso se deve ao fato de o país estar em guerra durante longo tempo, dificultando a expressão artística. Entretanto, quando o estilo realmente floresce nas terras alemãs, ele tem bastante força e personalidade.
Além disso, alguns críticos costumam se referir a duas modalidades de barroco na Alemanha. Uma peculiar ao note do país, mais severa e grave e outra que se desenvolve no sul, mais brincalhona e emocional.
O artista de maior destaque do barroco nas terras alemãs é o austríaco Johann Fischer von Erlach (1656 - 1723). Estudou em Roma e Nápoles, sendo grande a influência barroca em suas obras, em especial a do arquiteto Borromini.
Um bom exemplo disso pode ser dado pela Igreja de Charles Borromeu (Karlskirche), construída por Von Erlach entre 1716 e 1737, em homenagem ao imperador Charles VI. Suas influências mais marcantes, além de Borromini (em especial a Igreja de Santa Agnese, desenhada pelo arquiteto), são a arquitetura grega (há pontos de contato com o Pantheon, por exemplo) e a história romana.
Barroco na Bélgica
A Bélgica, principalmente a Antuérpia, abrigou artistas barrocos de grande talento e importância, extremamente reconhecidos inclusive em sua própria época. Entre eles destacam-se aquele que é considerado um dos maiores pintores barrocos: Pedro Paulo Rubens (1577 - 1640) e seu famoso assistente Anthony van Dick (1599 - 1641).
Rubens passou uma parte de sua vida na Itália, onde entrou em contato com os grandes mestres renascentistas e barrocos. Entretanto, nunca abandonou totalmente a tradição da pintura flamenga, misturando-a à italiana em um estilo próprio de resultados fantásticos. Era extremamente famoso na época e sua predileção pelas telas gigantescas, na decoração de igrejas e palácios, ajustava-se bem ao gosto dos governantes. Recebia inúmeras encomendas, chegando praticamente a monopolizar os pedidos de príncipes e monarcas.
Para dar conta dos trabalhos precisava manter um produtivo ateliê.
Acredita-se que, às vezes, ele apenas pintava um esboço colorido de uma figura, deixando ao encargo de seus alunos completarem o quadro. No final, limitava-se a dar os retoques finais com suas características pinceladas para que a obra ganhasse surpreendente efeito vivo. Além disso, costumava ser encarregado de missões diplomáticas por seu livre trânsito nas cortes, como a bem sucedida tentativa de instaurar a paz entre Inglaterra e Espanha.
Seu quadro “Alegoria Sobre as Bênçãos da Paz“, por exemplo, foi especialmente realizado para ser oferecido pelo artista a Carlos I. Trata-se de uma alegoria sobre as bênçãos da paz, em contraste com os horrores da guerra. Extremamente exuberante e vigoroso, associa a paz à extrema fartura (típica de seu estilo), enquanto Minerva expulsa Marte e a Fúria de cena. É impressionante como realiza um conjunto harmonioso a partir da profusão de formas aparentemente disparatadas.
Outro exemplo de sua obra pode ser o excepcional retrato “Cabeça de Criança“. Sua preocupação em representar o que via (o mundo real era mais valorizado por Rubens que a beleza clássica) está muito bem representado nesse quadro extremamente vivo de uma menina de lábios úmidos, olhos expressivos, delicado formato do rosto e modelação de cabelo - possivelmente a filha mais velha do artista. Também realizou auto-retratos e retratos de sua mulher. O uso dos efeitos de luz e suas pinceladas demonstram incrível técnica.
Além disso, Rubens era considerado uma pessoa excepcional, dotado de extrema energia e capacidades geniais. Conta-se, por exemplo, que era capaz de pintar, ao mesmo tempo que conversava, ditava uma carta e ouvia uma leitura de texto, sem contudo perder a concentração de nenhuma das atividades realizadas simultaneamente.
Anthony van Dick, o assistente que mais se destacou em seu concorrido ateliê, também era conhecido por suas especiais habilidades como retratista - é considerado, inclusive o Fundador da Escola Inglesa nesse ramo, quando de sua permanência como pintor da corte de Charles I - e na realização de estampas.
Foi bastante influenciado pelo mestre, porém conta-se que diferia bastante do mesmo em temperamento, uma vez que era bastante melancólico. Seu retrato “Carlos I da Inglaterra“ mostra um rei imponente, desprovido de praticamente qualquer acessório para realçar um poder que advém de sua própria figura. Suas obras, pelo tom aristocrático, valorizando o refinamento nobre (diferente das formas exuberantes de Rubens), são consideradas grandes registros da sociedade inglesa.
Barroco na Espanha
A Espanha vivia com particular intensidade as conseqüências da Contra-Reforma, com seus ideais ascestas, a prática de torturas como a Inquisição e a forte presença da ordem religiosa jesuítica. Além disso, era também o período de sua colonização na América recém-descoberta. Essa conjuntura espanhola influenciou bastante a sua expressão barroca.
Além da forte influência católica, Caravaggio e os pintores flamengos eram outras inspirações dos artistas espanhóis. A escultura e principalmente a pintura são de ótima qualidade, devendo muito ao naturalismo e busca por simplicidade dos pintores. Além dos temas religiosos, os retratos e as natureza-mortas foram bastante desenvolvidos por esses artistas. A arquitetura ganha maior liberdade no emprego das ordens clássicas, que se alteram em proporções e formas.
Diego Velásquez (1599- 1660) é considerado o principal mestre do período (ver verbete à parte). Brilhante retratista e pintor da corte de Philip IV, é particularmente conhecido pelo incrível efeito que produziu em seu quadro “As Meninas“.
José de Ribera (1591 - 1652), apesar de seu estilo claramente influenciado por Caravaggio, mostra traços da pintura de Carracci, em particular o idealismo deste (em contraste com o ideal de representação do outro italiano). Uma espécie de regionalismo é forte na pintura desse artista. Mesclou à influência do estilo barroco internacional, aspectos característicos da pintura espanhola e o chiaroscuro. Possuidor de forte estilo é bastante conhecido ainda por suas estampas.
“O Martírio de São Bartolomeu“, que apresenta o santo sendo preparado para torturas, é um trabalho seu que apresenta uma temática extremamente adequada à época.
Francesco de Zurburan foi outro pintor que enfatizou o misticismo em seu trabalho, como atesta “São Francisco em Oração“.
Barroco na França
O barroco francês foi muito influenciado por seus vizinhos europeus. Entretanto, o país soube adaptar esse estilo internacional à sua própria cultura, longe de simplesmente imitá-los. Um traço forte no barroco do país é a influência dos renascentistas italianos e norte-europeus ser maior do que a influência de mestres barrocos do período.
Na arquitetura, a inspiração no desenho do Louvre feito por Pierre Lescot, em 1543, é enorme. Muitos artistas barrocos, como François Mansart (1598 - 1666) e Louis Le Vau (1612 - 1670), utilizam-se de elementos dessa construção em seus trabalhos.
Mansart, arquiteto real desde 1636, inspirava-se no Louvre em suas obras, acrescentando um maior senso dramático. Além disso, valia-se também da duplicação de pilastras e da proliferação de vãos. A influência grega, como o uso de colunas dóricas também pode ser observada.
Uma de suas obras mais famosas é o “Château de Maisons“, construído entre 1642 e 1650, em Maisons-Lafitte.
Louis Le Vau foi primeiro arquiteto e secretário do rei desde 1655 (trabalhou na corte de Luís XIV). Seu desenho para a château do ministro do rei Nicolas Fouquet, a “ Vaux- le Vicomte” pode ser um bom exemplo da habilidade francesa em lidar com as influências estrangeiras, sem contudo perder suas características culturais.
A construção tem elementos tipicamente italianos (como seqüências iônicas) e sabe mesclá-los à particularidade da arquitetura francesa, como os tetos inclinados ou as abóbadas, tornando o conjunto extremamente nacional.
Seguindo a tradição francesa de transformações no Louvre, o rei Luís XIV chamou Claude Perralt (1613 - 1688), para construir a fachada leste dele. Ele imprimiu uma imponência tipicamente barroca à construção.
O Palácio de Versailles (para onde a corte se muda) é considerado um dos exemplos mais importantes de construção barroca, por respeitar o ideal de unidade das artes do estilo. O conjunto é garantido pela harmonia entre elementos arquitetônicos, decorativos, escultura, pinturas e até o desenho do jardim.
Inspirado no Vaux-le Vicomte, levou um período de tempo enorme para ser concluído - de 1624 a 1710 - e envolveu artistas como Jules Hardouin-Mansart (1646 - 1708, neto de François Mansart), Louis Le Vau, André Le Nôtre (1613 - 1700) e Charles Le Brun (1619 - 1690).
A Igreja dos Inválidos, em Paris, com sua inspiração na Igreja de São Pedro de Michelângelo e seus efeitos de luz dramáticos e tipicamente barrocos, pode ser considerada uma boa amostra do trabalho do arquiteto Jules Hardouin-Mansart.
Na pintura, destaca-se Nicolau Poussin (1594 - 1665), considerado o principal expoente da pintura barroca francesa. Por seus ideais de beleza, dignidade e inspiração nas estátuas clássicas, é considerado um pintor “acadêmico“. Tendo vivido em Roma boa parte de sua vida, a influência de Rafael e Ticiano em sua obra é mais expressiva que a dos artistas do barroco italiano, contemporâneos seus. Sua temática caía preferencialmente sobre coisas grandiosas, como passagens históricas, cenas heróicas e religiosas. A representação naturalista da natureza era um de seus pontos fortes.
“Et in Arcadia ego“, mostra uma paisagem ensolarada, com pastores e uma formosa jovem ao redor de uma lápide. Um deles está ajoelhado observando a inscrição na lápide em latim que dá nome ao quadro (até na arcádia estou). Notável é a composição do quadro, bem como o inter-relacionamento das figuras, que parecem responder a movimentos recíprocos. A dramaticidade é utilizada para sugerir uma atitude de tranqüilidade frente à morte.
Claude Lorrain (1600- 1682) era outro importante pintor do período, famoso por suas paisagens e estudos da natureza. Francês italianizado, trabalhou em Nápoles e Roma, sendo bastante influenciado pelos ideais de Carracci. Sua figuras, normalmente mitológicas ou históricas, eram representadas em tamanho reduzido, verdadeiras miniaturas nas paisagens. “Paisagem com Sacrifício a Apolo“ pode exemplificar sua obra.
Georges de La Tour (1593 - 1652), com seu uso de cores e luz própria e os irmãos Luís, Antonio e Mateus Le Nain, que freqüentaram a academia francesa de Belas Artes, são outros importantes pintores do barroco francês muito influenciados por pintores holandeses caravaggistas.
Ainda digno de menção na pintura do período é Jacques Callot (1592? - 1635), famoso por seu quadro “Misères de la Guerre“, freqüentemente comparado à obra de Goya “Desastres da Guerra“. Pretendendo retratar os abusos da Guerra dos Trinta Anos, ilustra bem o processo da arte estar começando a se voltar para temas de denúncia histórica, assistido no barroco.
Na escultura temos Pierre Puget (1620 - 1694) e François Girardon (1628 - 1715), como artistas de destaque.
Puget, extremamente influenciado pelo barroco italiano, em especial por Berrini, é considerado o escultor francês mais original do período. Tanto ele como Girardon buscaram inspiração na escultura grega helenística, distanciando-se pela maior intensidade emocional presente nas obras de Puget, em comparação às de Girardon.
Barroco na Holanda
Com a promoção da independência espanhola em 1581, o protestantismo ganhou enorme força no país. A nova religião proibia temas da pintura histórica renascentista, como a vida dos santos e a mitologia. Ao invés disso, deveriam ser executados os retratos, as pinturas de genre (normalmente utilizando-se da vida cotidiana como temática), representações da natureza em geral, em especial quadros de natureza-morta. Entretanto, apesar das restrições vemos uma produção extremamente forte, graças principalmente ao talento dos artistas seiscentistas.
A Itália, em especial o maneirismo (em suas últimas manifestações) e a arte de Caravaggio exerceram grande influência sobre alguns pintores holandeses do período. Podemos citar em especial Hendrick Terbrugghen (1588 - 1629) e Gerrit van Honthorst (1590 - 1656), como artistas cuja influência italiana (após terem passado um tempo no país, prática de treinamento usual entre os artistas holandeses da época) abriu novas fronteiras à pintura holandesa.
Ambos os pintores, com forte influência de Caravaggio, ajudam a popularizar no país os efeitos da arte do chiaroscuro. Como exemplo do trabalho de van Honthorst podemos citar “A Ceia“, de 1620, com seus dramáticos efeitos de luz e sombra, sua elaborada composição criando um ambiente escuro habitado por criaturas não idealizadas. Trata-se de uma pintura de genre (ou de gênero). Sobre Terbrugghen pode ser citado “A incredibilidade de São Tomé“, retomando temas de Caravaggio, mas diferenciando-se do mestre principalmente pela maior ênfase na cor presente em sua obra.
O estilo de Terbrugghen influenciou bastante os artistas holandeses do período, em especial Judith Leyster (1609 - 1660), que teve bastante sucesso em pintar cenas utilizando-se de elementos do estilo de Caravaggio, como atesta “Garoto tocando flauta“, com sua admirável composição e domínio técnico dos efeitos de luz e sombra.
Entretanto, os maiores artistas do período talvez tenham sido Rembrandt van Rijn (1606 - 1669), Frans Hals (1580 - 1666) e Jan Vermeer van Delft (apesar de terem passado grande parte da vida - ou a vida inteira, no caso de Vermeer - na pobreza).
Rembrandt é um dos pintores mais famosos da história da arte, considerado o melhor artista do barroco holandês. “A Lição de Anatomia do Dr. Tulp“, onde retrata o médico demonstrando aos membros da escola de cirurgiões a anatomia de uma mão humana, numa dissecação de cadáver (acontecimento bastante prestigiado na época), chamou a atenção para sua obra. Os dramáticos efeitos de luz e as figuras, claras, são características que merecem destaque no quadro.
Suas figuras retratadas são extremamente densas, baseadas na observação do mundo que o rodeia, não idealizadas. Excelente retratista, possuía especial habilidade em “captar a alma humana“. Talvez seguindo a influência de Caravaggio não temesse o feio, quando este é mais verossímil. Seu talento revela-se até mesmo em desenhos aparentemente simples, como a ilustração da história bíblica “parábola do servo desalmado“, em que, utilizando-se de poucos traços, transmite a culpa do servo diante de seu amo, por não ter como lhe pagar o devido, falhando em sua tarefa. Uma de suas obras mais famosas é “A Vigília“, com sua sugestão de mistério e personalíssimo uso de luz.
Os expressivos auto-retratos feitos pelo artista, cobrindo diferentes épocas de sua vida, numa espantosa autobiografia, bem como seus bem-sucedidos experimentos nas artes gráficas, em especial a água-forte (que consiste em cobrir a superfície do cobre com cera e realizar os desenhos com agulha), como “Cristo Pregando“, são outros pontos marcantes de sua carreira.
Frans Hals é famoso pelo efeito de suas pinceladas características e por sua assimilação da pintura de Caravaggio através de Terbrugghen. Excelente retratista, como comprova a obra “o Banquete dos Oficiais da Companhia de Guarda de São Jorge“, com sua preocupação em individualizar os diferentes membros da cena.
Apesar de existir poucos registros do trabalho de Jan Vermeer, já pode ser reconhecido seu enorme talento em criar pinturas extremamente expressivas, partindo de temas pequenos, não grandiosos ou da vida cotidiana (ver verbete natureza-morta).
Além disso, a arte pictórica holandesa no período barroco é especialmente caracterizada por suas paisagens nacionais, desenvolvidas por pintores talentosos como Jacob van Ruysdael e pela qualidade de suas produções de natureza-morta.
Barroco na Inglaterra
A arte Barroca na Inglaterra praticamente resume-se a algumas construções urbanas de arquitetos como Inigo Jones (1573 - 1652) e Christopher Wren (1632 - 1723). Na escultura e pintura não há notável produção. O que existe de mais representativo desse estilo são as obras de artistas estrangeiros em visitas pelo país. Além disso, considera-se que somente após o século XVIII que a Inglaterra realmente tenha começado sua tradição nas artes escultóricas e pictóricas.
Como já foi dito, o Barroco foi adaptado aos diferentes países em que se manifestou. As poucas amostras do estilo existentes na Inglaterra (conhecido também pelo nome de Lily), são bastante frias e comedidas, diferenciando-se do barroco sentimental espanhol e italiano, por exemplo. Chega mesmo a cogitar-se que o que é considerado barroco na Inglaterra, por suas características, não seria considerado da mesma maneira em algum outro país (aproximando-se mais do estilo clássico).
Cristopher Wren era uma personalidade bastante famosa em sua época. Além de seu destaque na área cientista, como físico e astrônomo, era um arquiteto extremamente prestigiado. O seu sucesso como arquiteto começou quando reconstruiu a Catedral de São Paulo, em Londres, após o incêndio de 1666. Para tanto, ele utilizou-se da inspiração de várias outras construções italianas e francesas (como a fachada do Louvre de Perrault e os livros de Palladio, por exemplo). Essas hibridações de estilos, entretanto, resultaram num conjunto extremamente harmonioso. A partir daí, muitas outras igrejas londrinas passaram a ser redesenhadas por Wren.
Inigo Jones, outro nome da arquitetura barroca do período, trabalhou na corte de James I e Charles I. Além disso, criava vestimentas para as personagens teatrais do poeta Ben Johnson. Seus trabalhos arquitetônicos sofreram grande influência da arte italiana que entrou em contato através da visita ao país. Neles encontram-se freqüentes traços de inspiração no arquiteto Palladio, da Escola de Veneza.
Uma boa amostra da influência de Palladio em seu trabalho pode ser dada pela Queen’ s House, em Greenwich. Entretanto, ele é mais conhecido pela Banqueting House em Whitehall. A influência da arquitetura grega é forte nessa obra.
Barroco na Itália
É interessante notar, principalmente na Itália, como a arte barroca apropriou-se de elementos renascentistas (inspirados em especial em Michelangelo), transformando-os à nova realidade. Um bom exemplo disso são as obras dos arquitetos Giacomo della Porta (1553 - 1602), aprendiz de Michelangelo e as de Carlo Maderno (1556 - 1629).
Della Porta chegou a completar a abóbada desenhada pelo mestre para a Igreja de São Pedro, no Vaticano. Respeitou alguns pontos criados por ele, mas acrescentou à obra elementos tipicamente barrocos como curvas e nervuras. Além disso, é famoso por sua fachada da Igreja de Jesus (Il Gesù), que mescla elementos da arquitetura clássica (como colunas e pilastras), com elementos de uma nova arte. Um exemplo disso é a duplicação das colunas e pilastras, características da abundância barroca, bem como a preocupação com o efeito do todo e a íntima conexão entre o andar superior e inferior.
A Igreja de Santa Suzana, desenhada por Carlo Moderno entre 1597 e 1604, inspirada no trabalho de Della Porta na Igreja de Jesus, é considerada a primeira construção realmente barroca. O artista também foi encarregado de terminar a construção da Basílica de São Pedro realizando modificações nos planos de Michelângelo.
Entretanto, Gianlorenzo Bernini (1598 -1680), arquiteto e escultor, talvez seja uma das figuras mais famosas do barroco italiano (ao lado de Caravaggio). Foi o principal artista da corte do Papa Urbano VIII, em Roma. Bernini também deu sua contribuição, como arquiteto, para a Basílica de São Pedro, construindo o baldachino (uma espécie de abóbada de bronze) acima do altar principal.
“Êxtase de Santa Tereza“, em Santa Maria Della Vittoria, demonstra sua habilidade, como artista barroco, em fundir a arquitetura, a pintura e escultura, num todo harmonioso. As esculturas de Bernini (a maioria em Roma) eram dotadas de enorme dramaticidade, exibindo rostos de expressões fortes. “Plutão e Prosérpina“ é um bom exemplo de suas obras escultóricas.
Ainda na arquitetura do período destacam-se Francesco Borromi (1559 - 1667), o principal rival de Bernini na época (competindo com o artista pelo prestígio) e Guarino Guarini (1624 - 1683). Em Veneza, destaca-se Baldassare Longhena (1598 - 1682).
Na pintura barroca italiana temos a influência da Academia de Bologna, fundada pelos irmãos Annibale e Antonio Carracci, além de seu primo Lodovico. Pregava um ensino de arte formal e anti-maneirista, baseando-se nas obras de Rafael, Michelângelo e Ticiano, que se oficializou como modelo para toda a Europa.
Annibale é o mais importante desses pintores, com sua ênfase sobre a beleza idealizada. Seu harmonioso retábulo “Pietà“ apóia-se no jogo de luz e no apelo emocional.
Caravaggio (Michelangelo Merisi 1573 - 1610) é outro importante nome da pintura barroca italiana, com forte influência sobre o barroco na Europa. Seu fantástico uso da luz é mais baseado no chiaroscuro (ver verbete), com figuras extremamente naturalistas, diferentes da dos Carracci (de quem descordava de muitos princípios). De vida turbulenta (chegou mesmo a matar um homem), sua obra era nada convencional, como demonstra o quadro São Tomé. Nele vemos três apóstolos retratados como trabalhadores comuns, com sua atenção concentrada em Jesus, sendo que um deles lhe toca uma ferida. “O Chamado de São Mateus“ também é famoso por sua dramaticidade e uso de luz característico.
Artemesia Gentileschi (1597 - 1652) é uma das primeiras mulheres a serem registradas pela história da arte. Inspirada em Caravaggio, imprime grande sendo dramático à sua obra. Outro importante nome da pintura barroca italiana é Guido Reni (1575 - 1642), freqüentador de Escola de Carracci e cuja fama, na época, esteve próxima a de Rafael. Seu afresco “Aurora“, demonstra senso de beleza e fluidez.
Barroco no Brasil
O barroco no Brasil recebeu impulso no século XVII, mas consolidou-se principalmente a partir do século XVIII e o ciclo do ouro. Apresentando forte influência ibérica e até holandesa, o barroco chegava ao Brasil um século atrasado em relação à Europa. Devido às enormes diferenças regionais do Brasil colonial, o barroco apresentou características distintas nas regiões em que se manifestou. O Nordeste brasileiro, o Rio de Janeiro e principalmente Minas Gerais foram os principais centros barrocos do país.
O barroco brasileiro é um dos momentos de maior importância da História da Arte nacional, principalmente o mineiro, por demonstrar a adaptação de modelos tradicionais portugueses às condições brasileiras e integrar eficazmente a arquitetura, a escultura e a pintura.
Barroco no Nordeste
Até o século XVIII a colonização brasileira concentrava-se principalmente no litoral nordestino, faixa economicamente mais rentável para a metrópole devido à produção de cana-de-açúcar. E é no Nordeste que vemos as primeiras construções que evidenciam traços barrocos. Durante a invasão holandesa já podem ser notadas algumas características do estilo nas obras que Nassau solicitou ao arquiteto Pieter Post para a urbanização de Recife e da ilha de Antônio Vaz. O Palácio Friburgo (ou das Torres), construído entre 1639 e 1642, já apresenta linhas barrocas.
Entretanto, com a expulsão dos holandeses e as enormes perdas de edifícios destruídos durante o processo de guerra, houve uma reformulação na arquitetura das novas construções e o barroco começa a tomar impulso em Recife. Principalmente em meados do século XVIII com a criação por Marques de Pombal da Companhia Comercial de Pernambuco e Paraíba em 1759, Recife, como sede dela, passa a ter um enorme aumento populacional, aumentando as edificações.
A explosão do barroco em Recife dá-se principalmente a partir da fachada do Convento e Basílica de Nossa Senhora do Carmo, que começou a ser realizada no final do século XVII e foi concluída em 1767. Bons exemplos de construção barroca na cidade são a Igreja de São Pedro dos Clérigos, do século XVIII, projetada por Manuel Ferreira Jácome e pintada por João de Deus Sepúlveda. A capela dourada da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência também apresenta um ótimo exemplo de talha barroca.
Em Salvador, sede do governo colonial, pode ser observada uma notável produção barroca, utilizando-se de materiais como o ouro e o jacarandá, e mantida pelo açúcar. A Igreja e Convento de São Francisco, iniciada em 1708, com sua riqueza de talha é um ótimo exemplo barroco, considerada como uma das mais belas "igrejas de ouro". A Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, que começou a ser construída em 1739, também pode exemplificar bem o estilo em Salvador. Apesar da maioria das soluções serem maneiristas, já mostra inovações barrocas. Essa mesma igreja abriga em seu forro uma das principais pinturas do movimento no país, realizada por José Joaquim da Rocha em 1773.
O Engenho Freguezia, no Recôncavo Baiano, por sua vez, é uma boa amostra da tendência fora das construções religiosas.
Na escultura destacam-se Frei Agostinho de Jesus, com suas obras de inspiração barroca como a imagem "Nossa Senhora do Menino Jesus".
Foi discípulo de Frei Agostinho da Piedade - importante escultor do final do século XVI de estilo mais clássico.
Em João Pessoa temos o convento de Santo Antônio como uma das obras franciscanas barrocas mais importantes do Brasil colonial. Em Alagoas, destaca-se o convento de São Francisco, em Penedo, realizado entre os séculos XVII e XVIII.
Em 1735 foi criada a Companhia Geral do Comércio do Estado do Maranhão e Grão-Pará (que incluía também o Ceará e o Piauí). O arquiteto italiano Antonio José Landi, em Belém a partir de 1753 também merece destaque no barroco brasileiro. Uma de suas principais obras foi o Palácio dos Governadores, feito em 1771, que apresenta tanto soluções barrocas quanto antecipa o rococó e até o estilo neoclássico.
Barroco no Rio de Janeiro
Com o ciclo do ouro, o Rio de Janeiro tornou-se uma importante cidade da colônia, principalmente por ser o porto que escoava as riquezas de Minas Gerais para a metrópole. Em 1763 a própria capital da colônia transfere-se de Salvador para a cidade, aumentando sua importância e o contato com a Europa. As primeiras construções barrocas no Rio de Janeiro eram realizadas principalmente por engenheiros militares portugueses no local que traziam o gosto ibérico para o sudeste da colônia.
O Mosteiro de São Bento, é um exemplo dessas construções. Começou a ser realizado pelo engenheiro militar português Francisco Frias de Mesquita, em 1617. O projeto passou por inúmeras modificações durante o século que levou para ser construído e, em 1785, mestre Inácio Ferreira Pinto imprimiu características mais afinadas ao estilo rococó, modificando grande parte do trabalho.
Uma interessante construção barroca carioca é a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, de 1720, projetada por José Cardoso Ramalho e que tem em sua localização um dos grandes méritos da obra: fica no alto do Outeiro da Glória e apresenta ótima solução para as escadarias de acesso.
Fora das construções religiosas, destaca-se a casa dos Governadores ou Paço, que acabou sendo convertida em residência real durante a estadia da corte portuguesa no país, realizada pelo engenheiro militar português José Fernando Pinto Alpoim.
O escultor Francisco Xavier de Brito é um dos grandes nomes do barroco carioca. Acredita-se inclusive que Aleijadinho foi bastante influenciado por seus trabalhos de grande originalidade (Xavier de Brito posteriormente chegou a produzir em Minas Gerais). Uma de suas obras de destaque são as esculturas que realizou para a Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, no conjunto do Convento de Santo Antônio. Juntamente com o entalhador Manuel de Brito e o pintor Manuel da Costa Coelho, realizou um dos mais belos interiores sacros.
Valentim da Fonseca e Silva ou Mestre Valentim também é um grande nome da escultura no período, de estilo mais próximo ao rococó. Foi o responsável pelas esculturas do Passeio Público, uma primeira tentativa realizada pelo então vice-rei D. Luís de Vasconcelos (1779 - 1790) de criar um espaço público mais requintado. Além de esculturas possuía ainda pavilhões, obeliscos, chafarizes e jardins desenhados.
A pintura barroca teve grande desenvolvimento no Rio de Janeiro. Pode se falar inclusive de uma escola fluminense iniciada com Frei Ricardo do Pilar ("O Senhor dos Martírios") e liderada principalmente pelo retratista e pintor religioso José de Oliveira Rocha ("Gênio da América"). Foi tão forte na capital brasileira de então que continuou a existir até mesmo depois de 1816 e a chegada da Missão Artística Francesa (ver pintura brasileira). Nela destacam-se nomes como Caetano da Costa Coelho, primeiro a tentar a pintura de perspectiva em 1722 com "Nossa Senhora da Visitação", Leandro Joaquim responsável por seis painéis ovais que retratam a paisagem carioca localizado em um dos pavilhões do Passeio Público, Manuel da Cunha ("Retrato do Conde de Borbadela"), José Leandro de Carvalho, retratista da família real e Francisco Pedro de Amaral, o último dos pintores dessa escola pertencente à tradição colonial.
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