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Espiritismo Literatura e Leitura 18/01/2005 (00117)
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Dedicação, disciplina e discrição caracterizam jornada do conhecido médium

Professor universitário, graduado em Filosofia, Mestre em Ética e orador espírita bastante requisitado por todo o país, seu primeiro livro psicografado alcançou grande repercussão. Entrevistado pela RIE, suas respostas trazem detalhes interessantes sobre as dificuldades da mediunidade e experiência pessoal do próprio médium, também diretor-fundador do Centro de Estudos Espíritas Nosso Lar, em Campinas-SP.

RIE – O senhor tem viajado o país com palestras que têm atraído grande público. O senhor tem registro de quantos Estados e cidades já visitou?
Emanuel – Desde 1993, quando iniciei o serviço da pregação, já percorri 14 Estados deste nosso Brasil e recebi alguns convites para o exterior; tendo, assim, efetuado, até o momento, 806 palestras em 353 cidades, uma vez que viajei, apenas, nos finais de semana.

RIE – O senhor é espírita desde quando? O que o levou ao Espiritismo? Sendo em virtude de percepção mediúnica, que experiências viveu?
Emanuel – Originariamente, sou de família católica. Abracei, inicialmente sozinho, a seara espírita com a idade de 15 anos, como resultado de uma busca intensa pela Verdade. Desde a infância, porém, os fenômenos mediúnicos ocorrem comigo. Minha mãe, Lucilda Domingues, conta episódios muito curiosos. O primeiro fenômeno, mediúnico propriamente dito, ocorreu na data de 30 de novembro de 1975, quando contava 1 ano e sete meses. Contudo, lembranças espontâneas de encarnações anteriores, efeitos físicos, curas, premonições, vidências e obsessões formam algumas experiências vividas por mim.

RIE – A que instituição espírita vincula-se no momento?
Emanuel – Fundei, com outros companheiros, em Campinas/SP, no ano de 1997, o Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”, instituição que dirijo e onde atuo.

RIE – Qual sua profissão e escolaridade?
Emanuel – Sou professor universitário; graduado em Filosofia, Mestre em Ética e, atualmente, preparando o doutorado em Educação.

RIE – Seu livro “Aconteceu na Casa Espírita” é sucesso de vendas. A que atribui o fato?
Emanuel – À capacidade dos amigos espirituais de apresentarem uma obra cujo objetivo é de conduzir os leitores à reflexão acerca do trabalho e do trabalhador da Casa Espírita. Os benfeitores espirituais, que cooperaram para o surgimento deste e de outros livros mediúnicos, não estão preocupados com a questão comercial, propriamente, mas, sobretudo, com a questão ética do Espiritismo. Embora soubessem, desde o início, da contribuição da obra para os espíritas, solicitaram-me simplicidade e absoluta discrição, o que tenho procurado atender com presteza e afeto.

RIE – Poderia nos dar informações sobre o Espírito Nora, que orienta suas atividades mediúnicas?
Emanuel – Disse-nos, oportunamente, o espírito Nora: “Haveremos ainda, por longo tempo, de permanecermos no anonimato, experimentando-te, observando se consegues materializar, na Terra, o que propuseste na vida maior, sem que te desvies”.
Até hoje, nunca ouvi desse espírito amigo, nada acerca de sua personalidade espiritual. O que sei foi por meio do querido espírito Dr. Wilson Ferreira de Mello (médico psiquiatra em nossa cidade, desencarnado em 1992) que, em uma de nossas reuniões, assim se pronunciou: “Nora é um espírito que carrega a simplicidade d´alma como nobreza”. Disse, ainda, Dr. Wilson Ferreira de Mello que, nos primeiros séculos do cristianismo primitivo, Nora fundou uma ekklesia, um agrupamento de fiéis, em sua própria residência. Por várias vezes, ela apareceu-me carregando consigo uma palma, símbolo claro do martírio entre os primeiros cristãos. De mais, sabemos, apenas, que é um espírito profundamente comprometido com a fidelidade espírita.

RIE – Como é o processo de elaboração das palestras?
Emanuel – Como pessoa comum estudo o Espiritismo, preparando o discurso de maneira lógica. Todavia, durante a pregação, noto que os espíritos me auxiliam de maneira ostensiva.

RIE – Suas palestras sempre trazem muitas informações históricas e filosóficas. Isso se deve à sua formação acadêmica, inspiração espiritual ou gosto pelo tema?
Emanuel – Minha formação acadêmica se deu, a custa de muito esforço e incontáveis renúncias e testemunhos. O caminho foi exatamente inverso. O tríplice aspecto do Espiritismo me estimulou numa busca natural pelo conhecimento. Quando cheguei aos bancos acadêmicos já carregava o gosto pela história e filosofia; todavia, os amigos espirituais me têm incentivado ao estudo constante do Espiritismo e de todas as disciplinas filosóficas e científicas que me possam servir de subsídios para o entendimento de mim mesmo e do homem, aplicando-os a serviço da divulgação Espírita.

RIE – O fato de sempre haver referências biográficas, ricas de detalhes, em suas palestras, especialmente de grandes vultos da história humana, está relacionado apenas com a questão cultural ou o senhor busca esses dados também como fonte de inspiração para si mesmo e para exemplificação junto aos ouvintes?
Emanuel – Foi a partir do item 625 de O Livro dos Espíritos. Quando os imortais apresentaram Jesus como guia e modelo para a humanidade, senti-me estimulado a conhecer mais detalhadamente a vida de nosso Mestre. Mas foi no silêncio das reuniões mediúnicas que os bons espíritos me recomendaram o estudo de homens e mulheres que contribuíram com o progresso da humanidade. Lembro-me de que os espíritos amigos me aplicavam recursos magnéticos na cabeça; algumas vezes (sem dizer nada a ninguém, com medo de ser considerado místico, obsediado e empolgado), sentia que me colocavam alguns “aparelhos”. Nunca disse isso a ninguém, mas, uma querida companheira médium devotada e com larga experiência na área da desobsessão do Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas/SP, a Sra. Ana Maria Chechinato, por várias vezes relatou-me, em segredo, a presença de aparelhos ligados à minha cabeça durante toda reunião. Sua vidência confirmou o que eu já sentia. Em mediunidade, temos de aguardar a espontaneidade do fenômeno. A partir daí, senti-me mais “inteligente”, apareceu-me um desejo quase incontrolável pela leitura e minha memória se alterou sensivelmente. Penso que os bons espíritos me permitiram recuperar algo do passado, para colaborar mais e melhor com a divulgação do Espiritismo, ao mesmo tempo em que me esforço para imitar a vida dos biografados.

RIE – Quais os livros já editados, de sua psicografia? Existem outros em andamento?
Emanuel – Já foram publicadas três obras: Aconteceu na Casa Espírita, Cartas ao Moço Espírita e Bastidores da Mediunidade. Além desses, tenho outras obras concluídas, aguardando a autorização dos amigos espirituais para apresentá-las ao público. Não tenho datas definidas. Talvez dentro de alguns anos...

RIE – Descreva a experiência de falar em público, tanto do ponto de vista do retorno dos ouvintes, como do envolvimento dos espíritos.
Emanuel – Penso que a palestra é um serviço muito sagrado. É o momento sublime da pregação, da divulgação doutrinária que deve guardar o cuidado com o verbo e, sobretudo, um absoluto compromisso com Kardec num exercício constante de fidelidade ao Espiritismo.
O público sempre me tem estimulado na medida em que me concede a grata alegria da conversa amiga ao final das exposições.
Quanto à ação dos espíritos, muitas vezes, na hora da palestra, sem perder o controle de mim mesmo, sinto-me numa espécie de transe. Coloco-me na presença do público, fito-o acompanhado de fraterno sorriso, fecho os olhos, ligeiramente, buscando a máxima concentração de mim mesmo. Nesse momento, sem nenhum sentido místico exagerado, sinto a presença dos benfeitores. No decorrer da pregação meu cérebro parece ser invadido por jatos de energias, sinto-me profundamente inspirado e tudo fica mais claro. Os conceitos espíritas são apresentados de forma didática, a memória parece ser mais estimulada e me recordo, com maior clareza, de todos os pontos adrede estudados sem que os tivesse de memorizar exaustivamente; em meu peito cresce uma empolgação que se transforma em eloqüência, sobretudo, nas interpretações de narrativas ou apólogos. Contudo, sei que esse envolvimento, promovido pelos espíritos, objetiva atingir os corações amigos e sofredores que costumeiramente buscam, na pregação espírita, conhecimento doutrinário e ânimo cristão para a continuidade das lutas.

RIE – Em sua opinião, qual a maior carência do público freqüentador de nossas casas espíritas, na atualidade?
Emanuel – Nossa gente está necessitada de ouvir Kardec, isto é, os conceitos e explicações lúcidas da Doutrina Espírita. Num período de tantos modismos, de tantas idéias confusas é mister falarmos de Espiritismo àqueles que procuram a água viva prometida por Jesus.

RIE – E como é a experiência de ter fundado uma instituição espírita e presentemente também dirigi-la?
Emanuel – Fundei o Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” quando contava 22 anos. Suportei as críticas mais severas e a desconfiança dos amigos mais íntimos. Todavia, sete anos depois, com perseverança e o auxílio de vários confrades idealistas, posso afirmar que, nessa existência, nada me deu tanta alegria quanto o “Nosso Lar”.

RIE – Na psicografia, que fato marcante gostaria de relatar aos leitores?
Emanuel – Em minha vida, os testemunhos e as lutas na mediunidade têm sido intensos. A psicografia ocorre comigo desde os 17 anos. Porém, o primeiro livro só veio a público dez anos mais tarde. Os espíritos que se comunicam por meu intermédio são um tanto austeros, sem perderem a fraternidade. Lembro-me de quando psicografei as primeiras mensagens do Espírito Dr. Wilson Ferreira de Mello. Corria o ano de 1995, na reunião mediúnica de desobsessão, do Centro Espírita “Allan Kardec” de Campinas/SP. Após socorrer algumas entidades pela faculdade mediúnica de psicofonia, notei a presença do querido amigo espiritual. Por minha mão ele escreveu uma página com o seguinte título: Desobsessão: ato de amor. Nessa mesma noite, em casa, quando me preparava para o repouso físico, Dr. Wilson me apareceu. Parou na porta do quarto, olhou-me e apresentou duas laudas (era um simbolismo). Chacoalhou uma das folhas e disse: Isso foi o que eu preparei e isso, continuou ele, apresentando a outra página visivelmente descontente, como se minha inabilidade psíquica tivesse desfigurado um pouco a mensagem que ele desejava transmitir, foi o que você escreveu, precisamos melhorar, e desapareceu...
Eu não sei dizer se fiquei vermelho de vergonha ou branco de decepção. O que compreendi, a partir dessa presença amiga ao longo dos anos, foi que, em mediunidade, os exercícios bem orientados, a discrição, o apagar-se, o estudo das obras de Allan Kardec, a vida cristã e o tempo são os ingredientes necessários para o cumprimento da sagrada tarefa de intercâmbio espiritual.

RIE – Da farta literatura espírita, hoje à disposição, que fato mais lhe chama a atenção, em termos de conhecimento e prática dos ensinos?
Emanuel – Todos os livros produzidos por autores encarnados ou não e que sejam reconhecidamente espíritas têm o seu valor, mas não substituem as obras de Allan Kardec. O que me chama a atenção é que Kardec ainda permanece desconhecido. Contudo, nota-se o esforço do movimento espírita em, cada vez mais, divulgar as obras basilares de nossa doutrina.

RIE – Apesar de sua juventude, o senhor naturalmente já viveu momentos difíceis e também de felicidade. Gostaria de comentar sobre uns e outros.
Emanuel – Uma criança que nasceu com os pés e pernas tortos, obrigada a usar botas ortopédicas por longo tempo; “vítima” de espíritos obsessores que ensejaram os mais diversos testemunhos; internada aos 19 meses com a vida ameaçada por doença indefinida; aos três anos sofreu queda de uma escada de trinta degraus; gaga até os quatro anos de idade, asmática até os dez, sofreu traumatismo craniano aos 12; fratura de duas costelas, provocada por queda, num acidente de trabalho aos 14 anos; nova queda, provocada pelos espíritos adversários, aos 18 anos; Acidente automobilístico aos 20; hiperativa (na classificação moderna), com dificuldade extrema de aprendizado escolar nas primeiras fases, sofrendo o ridículo dos professores e colegas; de fato, alguém assim, vencendo-se a cada dia, tem muito o que agradecer a Deus! Os momentos mais felizes de minha vida se deram na prática do bem, no encontro e reencontro com os companheiros de ideal espírita, na divulgação doutrinária e, sobretudo, na honra de servir na seara do Cristo apesar das minhas naturais limitações.


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