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Espiritismo Literatura e Leitura 14/01/2005 (00104)
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Já nos primórdios da codificação o espírito de Erasto não esconde a Kardec o fato evidente de que, em muitos sentidos, o principal obstáculo contra a disseminação do espiritismo se encontra dentro do próprio movimento nascente
O espiritismo e os conflitos necessários
(Parte I)

Quando redigimos artigos sobre a complexa questão da mediunidade, partimos do princípío de que somos muito falhos de entendimento e de discernimento, no que se refere aos postulados e às práticas espíritas, sobretudo, no difícil campo da mediunidade.

Sim, porque a doutrina espírita, assim como a mensagem do Cristo, são um enorme desafio às nossas fraquezas morais, nossos lastimáveis agregados psicológicos profundos, tendências infelizes dos mais variados matizes. E não temos nenhum zêlo ou falso pudor em admitir isso, de forma muito bem clara e assumida.

Sem medo de vestir a "carapuça"

A carapuça serve sempre para nós mesmos que escrevemos, falamos, comentamos, trabalhamos pela edificação moral própria e alheia pelas vias do espiritismo. A carapuça será sempre para nós mesmos, até que estejamos isentos, um dia, por conseqüência dos frutos meritoriamente colhidos na longa estrada da evolução.

No presente estudo estaremos abordando uma mensagem do espírito Erasto, discípulo do apóstolo Paulo, dirigida ao Codificador, transmitida em reunião particular datada de 25 de fevereiro de 1863.

Espantosamente atual, o teor desta comunicação visava delinear, à época de Allan Kardec, os percalços pelos quais atravessaria a propagação da idéia espírita.

Erasto não esconde, na presente abordagem, o fato evidente de que em muitos sentidos, o principal obstáculo contra essa disseminação se encontra dentro do próprio movimento nascente.

Façamos mais este estudo, pois, com a idéia de vestir, assumidamente, a carapuça que nos cabe, e não com a idéia de que os outros deveriam vesti-la. Assim, estaremos realmente aproveitando apropriadamente o teor da oportuna comunicação.

E, para dizer a verdade, o assunto, mais uma vez, refere-se à obsessão —esta pouco compreendida e intrincada interação, em moldes mentais-emocionais infelizes— entre homens e espíritos.

A provação mais perigosa que o Espiritismo deverá sofrer

Há no momento uma recrudescência de obsessão, resultado da luta que, inevitavelmente, devem sustentar as idéias novas contra seus adversários encarnados e desencarnados. Habilmente explorada pelos inimigos do Espiritismo, a obsessão é uma das provações mais perigosas que ele terá de sofrer, antes de se fixar de maneira estável no espírito das populações.

Assim, deve ser combatida por todos os meios possíveis e, sobretudo, pela prudência e pela energia de vossos guias espirituais e terrestres.

A causa presunçosa e o modesto papel do obreiro

De todos os lados surgem médiuns com supostas missões, chamados, ao que dizem, a tomar em mãos a bandeira do Espiritismo e plantá-la sobre as ruínas do velho mundo, como se nós viéssemos destruir, nós que viemos para construir.

Não há individualidade, por medíocre que seja, que não tenha encontrado, como Macbeth, um espírito para lhe dizer: "Tu também serás rei", e que não se julgue designada a um apostolado muito especial. Há poucas reuniões íntimas e, mesmo, grupos familiares, que não tenham contado entre os seus médiuns ou seus simples crentes, uma alma bastante enfatuada para se julgar indispensável ao sucesso da grande causa, muito presunçosa para se contentar com o modesto papel de obreiro, trazendo a sua pedra ao edifício. Ah! meus amigos! Quantas moscas no coche!

Perigosa tentação - o fomento das mediocridades resultantes do amor-próprio e do orgulho

Quase todos os médiuns, (todos os sensitivos) em seu início, são submetidos a essa perigosa tentação. Alguns resistem; mas muitos sucumbem, ao menos por algum tempo, até que choques sucessivos venham desiludi-los.

Porque permite Deus uma prova tão difícil, senão para provar que o bem e o progresso não se instalam sem trabalho e sem luta, para tornar a vitória da verdade mais brilhante pelas dificuldades da luta? E que querem certos espíritos da erraticidade fomentando entre as mediocridades da encarnação essa exaltação do amor-próprio e do orgulho, senão entravar o progresso? Sem o querer, são instrumentos da provação que porá em evidência os bons e os maus servos de Deus.

A sedução pelo não essencial

A esse, tal espírito promete o segredo da transmutação dos metais, como a um médium de R..., aquele, como o sr....; um espírito revela supostos acontecimentos que se vão realizar, fixa as épocas, precisa as datas, indica os setores que devem concorrer ao drama anunciado; a tal outro, um espírito mistificador ensina a incubação dos diamantes; a outros ainda são indicados tesouros ocultos, prometem fortuna fácil, descobertas maravilhosas, a glória, as honrarias, etc.; numa palavra, todas as ambições e todas as cobiças dos homens são exploradas por espíritos perversos.

Eis porque de todos os lados vêdes esses pobres obsedados preparando-se para subir ao capitólio, com uma gravidade e uma importância que entristecem o observador imparcial.

Qual o resultado de todas essas promessas falazes? As decepções, os dissabores, o ridículo, por vezes a ruína, justa punição do orgulho presunçoso, que se julga chamado a fazer o melhor que todo o mundo, desdenha os conselhos e desconhece os verdadeiros princípios do espiritismo.

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