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Espiritismo Literatura e Leitura 30/11/2004(00032)
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A Aposta de Pascal

Consideremos este ponto e digamos o seguinte: "Ou Deus existe ou não existe." Mas qual das alternativas devemos escolher? A razão não pode determinar nada: existe um infinito caos a nos dividir. No ponto extremo desta distância infinita, uma moeda está sendo girada e terminará por cair como cara ou coroa. Em que você aposta?

Blaise Pascal, Pensamentos (edição póstuma, 1844)

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Todos nós jogamos dados com Deus. Esta foi a conclusão do filósofo francês do século dezessete, o matemático Blaise Pascal, quando se dedicou à tormentosa questão da existência de Deus.
Pascal admitiu que é impossível «provar» que Deus existe -- de fato, afirmou ele, a razão humana é incapaz de provar qualquer coisa com certeza. Para ele, a grande pergunta era se convinha a alguém acreditar na existência de Deus, e sua resposta era que você seria tolo se não acreditasse. A demonstração de Pascal emprega a matemática da probabilidade, que ele ajudou a inventar (ele esperava convencer especialmente seus arnigos aristocráticos, que eram jogadores fanáticos).

No modo de ver de Pascal, a crença ou a descrença que você possa ter em Deus implica uma aposta. Se Deus existe e a Sagrada Escritura é verdadeira, sua crença vai dar-lhe infinita felicidade após a morte. Se Deus não existe, tudo o que você tem a perder acreditando n' Ele são os prazeres finitos de uma vida finita. Mesmo se você acha que as chances da existência de Deus são próximas de zero - Pascal sugere que elas estão perto de 50 % - a única coisa racional que você pode fazer é jogar o jogo. (Em termos matemáticos, qualquer porcentagem finita do infinito é ainda infinito.) Logo, a razão mostra que você deve acreditar em Deus.

Naturalmente, você poderia ainda resistir à razão, mas isso só aconteceria se você permitisse que suas paixões sufocassem o que você tem de melhor. De acordo com Pascal, os desejos podem ser domados se você proceder como se acreditasse em Deus e participar de bons rituais cristãos. Uma vez que você se acostuma com isso, termina por descobrir que, largando seus hábitos pouco saudáveis, você fica até mesmo mais feliz que antes e isso, na visão de Pascal, é o verdadeiro pagamento da aposta.

O argumento de Pascal é bem arrumadinho, mas como ele mesmo provavelmente sabia, multiplicar e dividir quantidades infinitas não deixa de ser um negócio ardiloso. A lógica de Pascal levaria à busca de qualquer promessa de felicidade infinita, religiosa ou não, como a coisa racional a ser feita, em caso de haver uma remota chance de sucesso. (Digamos que exista 1% de probabilidade de que a Fonte da Juventude exista; você deveria largar tudo agora e ir em busca dela).

Para que a Aposta de Pascal funcione, você tem que tomar como certas muitas das coisas que ele quer provar - que, se Deus existe, Ele é infinito, onisciente, onipotente, e o verdadeiro autor da Bíblia. Mas, naturalmente, existe um numero infinito de outras possibilidades - por exemplo, que Deus exista mas que, na realidade, não ligue muito para o comportamento das pessoas ou (o mais danoso para o argumento de Pascal) que Deus exista mas não seja realmente um ser infinito.

Em qualquer caso, é muitíssimo mais difícil agir com base em crenças que você não tem do que Pascal gostaria de admitir. (E supõe-se que Deus haveria de saber se você estava sendo sincero ou só jogando.)

No âmbito da natureza humana, prazeres certos geralmente prevalecem sobre os incertos, por mais sedutores que sejam estes últimos. No calor da paixão, possibilidades infinitas podem vir a parecer bem infinitesimais.

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