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Espiritismo Literatura e Leitura 22/11/2004(00002)
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...A Prece

A prece é uma evocação. Por meio dela pomos o pensamento em relação com o ente a quem a dirigimos.
Pode ter por escopo um pedido, um agradecimento, uma glorificação. Quem a faz pode pedir para si ou para outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução da vontade divina; as que se dirigem aos bons Espíritos são levadas a Deus. Quando se ora a outros seres, além de Deus, é simplesmente como a intermediários ou intercessores, pois nada se pode obter sem a vontade de Deus.
O Espiritismo faz compreender a ação da prece, explicando o processo da transmissão do pensamento, quer o ser por quem se ora venha ao nosso chamado, quer o nosso pensamento chegue até ele. Para compreender o que se passa nessa circunstância, convém imaginar que todos os seres, encarnados e desencarnados, se acham mergulhados no mesmo fluido universal que enche o Espaço, tal qual o estamos, neste planeta, na atmosfera. Aquele fluido recebe uma impulsão da vontade. É o veículo do pensamento, tal qual o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito.
Então, logo que o pensamento é dirigido para um ser qualquer, na Terra ou no Espaço, de encarnado a desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece, de um para outro, transmitindo o pensamento, tal qual o ar transmite o som.
A energia da corrente está na razão da energia do pensamento e da vontade. É por esse meio que a prece chega aos Espíritos, estejam onde estiverem; que eles se comunicam entre si; que nos transmitem suas inspirações; que as relações se estabelecem a distância, entre os encarnados, etc.
Esta explicação é principalmente dada a quem não compreende a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas dar-lhe efeito inteligível, demonstrando que ela pode ter ação direta, efetiva, sem que por isso o seu efeito deixe de estar subordinado à vontade de Deus, juiz supremo de todas as coisas, de quem, somente, depende a eficácia daquela ação.
Pela prece o homem atrai o concurso dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Assim, adquire ele a força necessária para vencer as dificuldades e entrar no bom caminho, se deste se houver afastado. Também assim, desviará de si os males que por sua culpa atraísse.
Por exemplo: um homem vê a sua saúde arruinada pelos excessos cometidos e arrasta, até ao fim de seus dias, uma vida de sofrimentos. Terá razão de se queixar quando não alcançar a cura? Não, porque pela prece poderia ter obtido força para resistir às más tentações.
Separando-se os males da vida em duas partes, uma formada pelas tribulações que o homem não pode evitar e a outra pelas que lhe causam sua incúria e excessos, ver-se-á que esta excede de muito àquela.
Torna-se, pois, evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, e que as evitaria se sempre agisse com prudência e acerto.
É igualmente real que essas misérias resultam de infringirmos as leis de Deus, e que, se as observássemos, fielmente, seríamos perfeitamente felizes. Se não excedêssemos o limite do necessário na satisfação das nossas necessidades, evitaríamos as enfermidades que são a conseqüência dos excessos, e as vicissitudes a que essas moléstias nos arrastam; se limitássemos as nossas ambições, não teríamos a ruína; se não quiséssemos subir além do que podemos, não teríamos a queda; se fôssemos humildes, não passaríamos pela decepção de ver abatido o nosso orgulho; se praticássemos a lei da caridade, não seríamos mendigos, nem invejosos, ou ciumentos; evitaríamos as questiúnculas e as dissensões; se não fizéssemos mal aos outros, não recearíamos as vinganças, etc.
Admitindo que o homem nada possa contra os outros males, e que a prece seja ineficaz para deles preservá-lo, já não será bastante que possa libertar-se de todos os que provêm de si mesmo? Ora, aqui a ação da prece se concebe facilmente, pois tem por fim obter a inspiração salutar dos bons Espíritos e a força para resistir aos maus pensamentos, cuja execução pode ser funesta. Neste caso, não é o mal que eles desviam, mas o nosso mau pensamento que, aliás, nos pode causar grande mal; não embaraçam, em coisa alguma, os decretos de Deus; não suspendem o curso das leis da Natureza; apenas impedem que infrinjamos essas leis dirigindo o nosso livre-arbítrio. Mas fazem-no sem que o saibamos, de modo oculto, para não nos tolher a vontade.
O homem ficará, então, na posição de quem solicita bons conselhos e os põe em prática, mas conservando sempre a liberdade de os seguir ou não. Deus assim o quer para que o homem tenha responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. Isso, o homem pode ter a certeza de obter sempre, se pede com fervor. A esse caso é que se aplicam estas palavras do Evangelho: «Pedi e obtereis.» Reduzida mesmo a esta proporção, a eficácia da prece não traria imensos resultados? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar-nos seus efeitos, revelando as relações existentes entre o mundo corporal e o espiritual. Mas aqueles não são os seus únicos efeitos. A prece é recomendada por todos os Espíritos; renunciar a ela é desconhecer a bondade de Deus, é renunciar à sua assistência e ao bem que pode alcançar aquele que ore, e bem assim aquele por quem se ore.
Acedendo ao pedido que lhe é dirigido, Deus tem muitas vezes em vista recompensar o intuito, a dedicação e a fé daquele que ora. Eis por que a prece do homem de bem tem mais mérito aos olhos de Deus, e sempre mais eficácia. O homem viciado e mau não pode orar com fervor e com a confiança que somente a verdadeira piedade inspira. Do coração do egoísta, que apenas pelos lábios ora, só palavras saem, jamais os impulsos caridosos que dão à prece grande poder. É tão real isto, que, instintivamente, os egoístas recorrem de preferência às preces daqueles que, por sua conduta mais agradável a Deus, são mais ouvidos.
Uma vez que a prece exerce uma espécie de ação magnética, poder-se-ia supor o seu efeito subordinado à potência fluídica. Mas, assim não é. Os Espíritos, pela ação fluídica que exercem sobre os homens, suprem, se preciso, a insuficiência de quem ora, quer atuando diretamente em seu nome, quer dando-lhe momentaneamente uma força excepcional, quando digno desse favor ou quando a súplica possa ser útil.
Aquele que não se julgue em condições de exercer salutar influência, nem por isso deve abster-se de orar em favor de outrem, acreditando-se indigno de ser ouvido. A consciência de sua inferioridade é uma prova de humildade, sempre agradável a Deus, que leva em conta a intenção caridosa. O fervor e a confiança em Deus são o primeiro passo para o bem, passo que os bons Espíritos se sentem felizes em incentivar. Repelida só o é a prece do orgulhoso que, confiante na sua força e no seu merecimento, crê poder substituir-se à vontade do Eterno.
O valor da prece está no pensamento, sem dependência de local, de palavras e de ocasião em que seja formulada. Portanto, pode-se orar em qualquer lugar e a qualquer hora, só ou em comum.
A influência do local ou da ocasião depende de as circunstâncias favorecerem ou não o recolhimento. A prece em comum tem ação mais poderosa, quando todos se associam de coração ao mesmo pensamento, objetivando o mesmo fim, porque é como se muitos cantassem, em coro, ao mesmo tempo. Mas, que importa seja grande o número dos que orem, se cada qual orar insuladamente e por conta própria? Cem pessoas reunidas podem orar com o sentimento de egoístas; enquanto que duas ou três, unidas pelo pensamento, podem orar irmanadas em Deus, obtendo a sua prece mais resultado que a daquelas cem.

Extraído do livro: Evangelho Segundo o Espiritismo


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