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Espiritismo Literatura e Leitura 18/01/2005 (00116)
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Léon Denis – O Apóstolo do Espiritismo

Nilza Teresa Rotter Pelá

Prólogo

Paris, 2 de outubro de 2004, Congresso Espírita Mundial, Divaldo Pereira Franco psicografa mensagem em francês escrita de trás para frente alusiva ao bicentenário de Allan Kardec:

“No mesmo ano em que Napoleão Bonaparte foi consagrado imperador dos franceses, Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lion, em 3 de outubro de 1804.

Transferido da fogueira de Constance em 6 de junho de 1415, para os dias gloriosos da intelectualidade de Paris, Kardec dedicou-se ao apostolado da Doutrina ensinada e pregada por Jesus.

Sua Vida e sua obra testemunham sua grandeza-Missionário da Verdade!

Nós os beneficiários de sua sabedoria agradecemos emocionados, e pedimos humildemente: ore por nós, tu que já estas no reino dos céus!

LÉON DENIS



Quem é este Espírito que vem dar notícias de Kardec, qual foi seu papel na consolidação do Espiritismo nascente? Que ligação ele teve com o movimento Espírita Brasileiro? O que podemos apreender com sua vida enquanto encarnado?

É objetivo desta palestra explanar sobre a biografia, produção escrita de Léon Denis, bem como discorrer sobre seu papel na consolidação da Doutrina dos Espíritos. Buscamos assim prestar-lhe uma homenagem ao tempo em que refletimos sobre o nosso próprio papel no movimento espírita e agente de transformação de nosso planeta.



Sua Vida, Sua Obra.



Nascimento: Foug, França - 1846.

Falecimento: Tours, França - 1927.

Léon Denis nasceu numa aldeia chamada Foug, situada nos arredores de Tours, em França, a 1 de Janeiro de 1846, numa família humilde.

Cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os pesados encargos da família.

Não era seu hábito desperdiçar um minuto sequer de seu tempo, com distrações frívolas, às quais a maior parte dos homens recorre para matar as horas.

Desde os seus primeiros passos neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Ao invés de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio desenvolver a sua inteligência. Tornou-se um autodidata sério e competente.

Aos 12 anos concluiu o curso primário, mas a situação modesta da sua família não lhe permitiu grandes estudos. Desde cedo teve problemas de saúde física: com os olhos principalmente. Aos 16 anos salientou-se como um dos melhores oradores e ardente propagandista.

Aos 18 anos tornou-se representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o obrigava a viagens constantes. Adorava a música e sempre que podia assistia a uma ópera ou concerto. Gostava de dedilhar, ao piano, árias conhecidas e de tirar acordes para seu próprio devaneio.

Não fumava, era quase exclusivamente vegetariano e não fazia uso de bebidas fermentadas. Encontrava na água a sua bebida ideal.

Era seu hábito olhar, com interesse, para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18 anos, o chamado acaso fez com que a sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Esse livro era “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec.

Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se com avidez à leitura. O próprio Denis disse: “Nele encontrei a solução clara, completa e lógica, acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas... Como tantos outros procurava provas, fatos precisos, de modo a apoiar a minha fé, mas esses fatos demoraram muito a chegar. A princípio insignificantes, contraditórios, mesclados de fraudes e mistificações, que não me satisfizeram, a ponto de, por vezes, pensar em não mais prosseguir as minhas investigações. Mas, sustentado, como estava, por uma teoria sólida e de princípios elevados, não desanimei. Parece que o invisível deseja experimentar-nos, medir o nosso grau de perseverança, exigir certa maturidade de espírito antes de entregar-nos aos seus segredos”.

Denis ainda relata sobre seu contato com o Livro dos Espíritos: “Li o livro com avidez, escondido de minha mãe, que controlava, desconfiada minhas leituras. Ela havia descoberto meu esconderijo e por sua vez, lia essa obra na minha ausência... Ela se convenceu, como eu, da beleza e grandeza dessa revelação”.

O encontro pessoal entre Kardec e Léon Denis ocorre no ano de 1867 na cidade de Touraine (França). O codificador, a convite de um amigo, passava alguns dias na cidade em companhia de sua esposa e seu anfitrião havia convidado todos os espíritas da cidade a vir cumprimentá-lo. Léon Denis descreve seu encontro com Kardec em um relato respeitoso e poético vendo além do Codificador o esposo atencioso: “Tínhamos alugado para recebê-lo e ouvi-lo, uma sala, na Rua Paul Louis Courrier e havíamos solicitado à Prefeitura a autorização para a reunião, pois, no Império, uma lei severa, proibia qualquer concentração com mais de 20 pessoas. Entretanto, no momento aprazado pela assembléia, uma recusa formal nos foi comunicada. Fui encarregado de ficar à porta do local, para prevenir os convidados, a fim de se dirigirem para a Spirito-Villa, casa do Sr Rebondin, na rua du Sentier, onde a reunião se fazia no jardim. Éramos bem uns 300 ouvintes, em pé e apertados uns aos outros, apinhados sob as árvores, pisando nos canteiros de nosso hospedeiro. Sob a claridade das estrelas, a voz suave e grave de Allan Kardec se elevava, e sua fisionomia meditativa, iluminada por uma pequena lâmpada colocada sobre uma mesa, no centro do jardim, produzia um aspecto fantástico. Ele nos falava sobre obsessão, que era um assunto em voga. Foram-lhe feitas perguntas às quais respondia com fisionomia sorridente. Os canteiros do Sr Rebondin ficaram bem pisoteados, mas cada um levou dessa noite uma inesquecível lembrança. No dia seguinte, retornei a Spirito-Villa para fazer uma visita ao Mestre; encontrei-o sobre um pequeno banco, junto a uma grande cerejeira, colhendo frutos que atirava para a Sra Allan Kardec - cena bucólica que contrastava alegremente com esses graves acontecimentos”. A partir desses textos já podemos constatar o grande respeito que Léon Denis tinha por Kardec, a quem chamava de Mestre.

Ainda, outras vezes Denis encontrou-se com o Codificador. No ano de 1867 esteve duas vezes na casa de Kardec na Rua Sainte-Anne em Paris e depois em Bonneval, onde o Codificador tinha falado aos espíritas de Eure-et-Loir e de Loi-et-Cher.



As viagens eram para ele uma fonte de alegria e de aprendizado. Em França e no estrangeiro aproveitava as oportunidades que poderiam enriquecer materialmente o patrão sem desprezar tudo o que poderia contribuir para o conhecimento próprio.

Interessavam-lhe as praças, os monumentos, o povo, os hábitos, os costumes e a meditação entre os velhos caminhos das montanhas. Delicia-se com os bosques, com os rios e os lagos. Estas longas horas de meditação solitária no seio da Natureza conduziram-no a uma mais completa compreensão de Deus.

Em 1880, pelas cidades e vilas que percorria, por força dos seus afazeres profissionais, pronunciava conferências e fundava círculos e bibliotecas populares. É incalculável o número de conferências por ele proferidas em França, no propósito de propagar a “Liga de Ensino”, fundada por Jean Macé. Na Argélia, onde esteve várias vezes em serviço, também desenvolveu uma intensa atividade de divulgação doutrinária.

O ano de 1882 marca, em realidade, o início do seu apostolado, durante o qual teve que enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo que olham para o

Espiritismo com ironia e risadas e os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam em aliar-se aos ateus, para o ridicularizar e enfraquecer. Léon Denis, porém, como bom paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu lado para o encorajar e exortá-lo à luta.

“Coragem, amigo” - diz-lhe o espírito de Jeanne - “estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a tua obra”.

A 2 de Novembro de 1882, dia de Finados, um evento de capital importância produzisse na sua vida: a manifestação, pela primeira vez, daquele Espírito que, durante meio século, havia de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual - Jerônimo de

Praga - que lhe disse: “Vai meu filho. Pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar”. E como Léon Denis indagasse se o seu estado de saúde o permitiria estar à altura da tarefa, recebeu esta outra afirmativa:

“Coragem, a recompensa será mais bela”.

A partir de 1884, achou conveniente fazer palestras visando à maior difusão das idéias espíritas. Escreveu, em 1885, o trabalho “O Porquê da Vida”, no qual explica, com nitidez e simplicidade, o que é o espiritismo.

Em 1892, recebeu um convite da duquesa de Pomar, para falar de espiritismo na sua residência, numa dessas manhãs célebres, em que se reunia quase toda a Paris. Ele ficou indeciso e temeroso. Depois de muito meditar as responsabilidades, aceitou o convite.

“Le Journal” de Paris publicou, acerca da reunião na casa da duquesa, a seguinte notícia: “A reunião de ontem, para ouvir a conferência de Léon Denis sobre a Doutrina”.

Espírita, foi uma das mais elegantes. De uma eloqüência muito literária, o orador soube encantar o numeroso auditório, falando-lhe do destino da alma, que pode, diz ele, reencarnar até à sua perfeita depuração. Ele possui a alma de um Bossuet e soube criar um entusiasmo espiritualista”.

O êxito do seu livro “Depois da Morte” situara-o como escritor de primeira ordem. Os grandes jornais e revistas ecléticas solicitavam-no e as tiragens sucessivas desse livro esgotavam-se rapidamente.

A principal obra literária de Denis foi a concernente ao Espiritismo, mas escreveu, outrossim, segundo o testemunho de Henri Sausse, várias outras, como: Tunísia,

Progresso, Ilha de Sardenha, etc., certamente fruto das suas memórias de viagem.

Desde 1901 foi Presidente Honorário da Federação Espírita Brasileira e seu representante permanente na França e na Europa. Foi colaborador de “Reformador” Há nos arquivos da FEB uma carta de Léon Denis datada de 26-1-1915 que diz da remessa de livros seus juntamente com outros de Kardec e Delanne, através de Leymarie, editor, esclarecendo que por motivo de fadiga e doença, não pode pessoalmente cuidar dos detalhes.

A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi, dia a dia, enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava, com calma e resignação, a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude. Aceitava tudo com estoicismo e resignação. Jamais o viram queixar-se.

Todavia, bem podemos avaliar quão grande devia ser o seu sofrimento.

Mantinha volumosa correspondência jamais se aborrecia. Amava a juventude, possuía a alegria da alma. Era inimigo da tristeza.

O mal físico, para ele, devia ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto, a grande dificuldade para Denis, consistia em rever e corrigir as novas edições dos seus livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou importunar os amigos.

Depois da morte da sua genitora, uma empregada cuidava da sua pequena habitação. Ele só exigia uma coisa: o absoluto respeito às suas numerosas notas manuscritas, as quais ele arrumava com meticulosa precaução. E foi justamente por causa dessa sua velha mania que a duquesa de Pomar o denominara “o homem dos pequenos papéis”.

Em 1911, após despender não pequeno esforço, no preparo da nova edição d’ “O Problema do Ser, do destino e da Dor”, ficou gravemente doente com uma pneumonia; foi o tratamento a tempo do seu médico que, num curto espaço de tempo, o colocou de novo em pé.

Contudo uma grande e profunda dor lhe estava reservada: veio a Guerra de 1914-18 e o seu espírito condoía-se ao ver partir para a frente de batalha a maioria dos seus amigos.

Léon padecia, então, de uma doença intestinal e estava parcialmente cego.

Pela incorporação, os seus amigos do Espaço e, entre eles, um Espírito eminente, comunicavam-lhe, de tempos em tempos, as suas opiniões sobre essa terrível guerra, considerada nos seus dois aspectos: o visível e o oculto.

Estas comunicações levaram-no a escrever um certo número de artigos, publicados na

“Revue Spirite”, na “Revue Suisse des Sciences Psychiques” e no “Echo Fid”, onde transparece, dentro da lei de causa e efeito, o seu grande amor pela terra onde nasceu.

Quando a Guerra se aproximava do fim, a “Revue Spirite” passou a publicar, em todos os seus números, artigos de Léon Denis.

Após a 1ª Grande Guerra, aprendeu Braille, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao espírito, pois, nesta época da sua vida, estava, por assim dizer, quase cego.

Em 1915 iniciava ele uma nova série de artigos, repassados de poesia profunda e serena, sobre a voz das coisas, preconizando o retorno à Natureza.

Nesta época, um forte vento soprava contra o Kardecismo. O fenomenismo metapsiquista espalhava aos quatro ventos a doutrina do filósofo P. Heuzé que fazia muito barulho através do “L’Opinion”, com as suas entrevistas e comentários tendenciosos. Afirmava, prematuramente, que, à medida que a metapsíquica fosse avançando, o Espiritismo iria, a par e passo, perdendo terreno. A sua profecia, no entanto, ainda não se realizou.

Após a vigorosa resposta de Jean Meyer na “Revue Spirite”, Léon Denis por sua vez, entrou na discussão, na qualidade de presidente de honra da União Espírita Francesa, numa carta endereçada ao “Matin”, na qual estabelecia, com admirável nitidez, a diferença entre Espiritismo e Metapsiquismo.

A partir desse momento, Léon Denis teve que exercer grande atividade jornalística para responder às críticas e ataques de altos membros da Igreja Católica, saindo-se, como era de esperar, de maneira brilhante.

Em Março de 1927, com 81 anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou de “O Gênio Céltico e o Mundo Invisível”. Neste mesmo mês a “Revue Spirite” publicava o seu derradeiro artigo.

A hora de partir para o plano espiritual, de onde continua sua missão, vem encontrar o trabalhador, já ancião, com 81 anos, em plena atividade. Apressa-se em concluir o livro "O Gênio Céltico e o Mundo invisível", para entregá-lo a seus editores. Não chegaria a vê-lo publicado.
Dita para a sua secretária, Claire Baumard, o prefácio prometido a Henri Sausse, que irá publicar uma biografia de Kardec. Que trabalho seria mais digno de encerrar a carreira de Denis?
Manhã chuvosa de 12 de abril de 1927... no quarto de Denis amigos fiéis acompanham seus últimos instantes. Gaston Luce e sua esposa estão entre eles. "Mademoiselle" Baumard tem nas suas as mãos do agonizante, que não cessa de lhe dar recomendações pelo futuro da Doutrina Espírita.

As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de Abril. A seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de qualquer Igreja confessional. Está sepultado no cemitério de La Salle, em Tours.

Denis parte, vitorioso, e, de lá, continua nos esclarecendo, consolando e animando

Abaixo, alguns livros de Léon Denis:



Editora CELD

- "Espíritos e Médiuns"
- "O Espiritismo e o Clero Católico"
- "O Gênio Céltico e o Mundo Invisível"
- "O Mundo Invisível e a Guerra"
- "O Progresso"
- "Socialismo e Espiritismo"

Editora FEB

- "Cristianismo e Espiritismo"
- "Depois da Morte"
- "Joana D'Arc, Médium"
- "No Invisível"
- "O Além e a Sobrevivência do Ser"
- "O Grande Enigma"
- "O Porquê da Vida"
- "O Problema do Ser, do Destino e da Dor"

OBRAS DE LÉON DENIS:



O PROGRESSO -1890- Texto de uma conferência onde defende que a lei de solidariedade que une todos os tempos e todas as raças precisa de tempo para ser esclarecida. Se a humanidade progride lenta e penosamente é que ela não sabe de onde vem e para onde vai. Dai suas crises de desespero, sua revolta contra o destino. Há necessidade de se percorrer infindas existências para adquirir tudo o que lhe falta. O homem é artífice de seu destino, sua felicidade futura será sua obra.



O PORQUE DA VIDA -1885-seu objetivo é uma mensagem de fé e de consolo aos que sofrem, oferecendo uma possibilidade de crença e de esperanças. Alguns estudiosos da obra de Denis vêm claramente neste livro a influência que a parte terceira – Esperanças e Consolações de O livro dos Espíritos, exerceu sobre ele.



DEPOIS DA MORTE-1890- é um livro de definição do Espiritismo, escrito para atender uma moção aprovada no Congresso Espiritualista Internacional reunido em Paris, em setembro de 1889.A Obra tem como subtítulo “Exposição da filosofia dos Espíritos, das suas bases científicas e experimentais e suas conseqüências morais”. Esta obra nasce em um momento muito importante para a consolidação da Doutrina Espírita, pois neste congresso havia nova tática dos adversários que pretendiam atrelar a doutrina Codificada por Kardec ao carro desgovernado das envelhecidas e superadas doutrinas espiritualistas do passado. Ele busca estabelecer os verdadeiros princípios tal como foram transmitidos pelos Espíritos para que se coloque um fim nas discussões sobre Deus, a alma, a realidade das comunicações do mundo terrestre e do mundo espiritual. A primeira parte descreve as grandes religiões do passado, na segunda parte apresenta o que denominou “os grandes problemas”: universo e Deus, vida imortal, pluralidade das existências, o alvo da vida, as provas e a morte, onde expõe com clareza as questões filosóficas espíritas, a seguir mais dois capítulos: “O mundo invisível” e “Além Túmulo”, partes estas denominadas por Gaston Luce como sendo uma enciclopédia do mundo invisível, a quinta parte “O caminho reto” trata da parte moral da doutrina.



CRISTIANISMO E ESPIRITISMO -1898- Compreende quatro partes: As vicissitudes dos evangelho, A doutrina secreta do cristianismo, Relações com os espíritos dos mortos, A nova revelação. Busca estabelecer a pureza da doutrina do Cristo livrando-a das interpretações que lhe agregaram e que as desvirtuaram.



O ALÉM E A SOBREVIVÊNCIA DO SER-1901- Pequena obra onde apresenta uma série de fatos e de opiniões sobre a sobrevivência da alma. O autor inicia o livro fazendo a indagação: “Haverá em nós um elemento, um princípio que persista depois da morte?”.



NO INVISÍVEL-1903- Desde a publicação de O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, um vasto e permanente movimento de experimentação mediúnica se desenvolvera principalmente nos países anglo-saxões. Na França ainda não havia uma obra onde estivesse condensado o resultado de semelhante pesquisa. O livro de Léon Denis vinha preencher essa lacuna; era uma apresentação da questão espírita no começo do novo século e também uma obra de divulgação e de defesa. Nesse tempo a Doutrina havia tido um rápido desenvolvimento, mas vivia um período conturbado, pois os que tinham fé, freqüentemente demonstravam impaciência e intransigência à propagação da mesma nos meios refratários; os indecisos mostravam-se reservados e renovavam suas críticas à mediunidade; os cépticos cobravam aprofundamento nas investigações. O livro descreve a vida no mundo espiritual, discorre a respeito das comunicações dos espíritos, bem como sobre a mediunidade. Na introdução afirma: “Todo o adepto deve saber que a regra por excelência das relações com o invisível é lei das afinidades e atração. Nesse domínio, aquele que procura coisas inferiores as encontra e se confunde com elas; aquele que prefere os altos cumes, os atingirá, cedo ou tarde, fazendo deles novo meio de progresso. Se quiserdes manifestação de meio elevado, esforçai-vos para vos elevardes. A experimentação, no que ela possui de belo e grandioso, a comunhão com o mundo superior, não é conseguida pelo mais sábio, mas sim pelo mais digno, ou melhor, por aquele que tenha mais paciência, consciência e moralidade.” A obra é dividida em três parte: O Espiritismo Experimental - as leis; O Espiritismo experimental - os fatos; Grandezas e misérias da mediunidade. Um crítico do livro assim se expressou: “Passa do fato à idéia, da experimentação científica ao nobre impulso da alma em busca da virtude”.



O PROBLEMA DO SER DO DESTINO E DA DOR -1908- Ao escrever este livro Léon Denis passava por sérias dificuldades, sua visão estava bastante deficiente, ela não tinha secretária para ajudá-lo e sua mãe, por quem tinha forte vínculo afetivo, havia desencarnado. Tem como subtítulo: os testemunhos, os fatos e as leis. Em sua folha de rosto destaca os seguintes conteúdos: estudos experimentais sobre os aspectos ignorados do ser humano, as personalidades duplas, a consciência profunda, a renovação da memória, as vidas anteriores e sucessivas. No livro ele destaca: “O espiritismo fornece o meio de afastar a dúvida de vossos corações, de vossos pensamentos, ele vos desperta e vos persuade, arrastando-vos irresistivelmente, rumo a um horizonte onde brilham inesperadas claridades. Escutai as vozes reveladoras dos túmulos; elas nos trazem uma renovação de pensamento com os segredos do além, que o homem tem necessidade de conhecer para viver melhor, agir melhor e morrer melhor”.



JOANA D’ARC MÉDIUM -1910-1912 - Precedendo a elaboração da obra Léon Denis havia proferido várias conferências a partir de 1896: “Joana d’Arc, sua vida, seu processo, e sua morte”; Joana d’Arc, suas vozes”; “Joana d’Arc e o Espiritualismo Moderno”; “Joana d’Arc em Touraine” e “O papel da mediunidade na História”. A primeira versão do livro (1910) se intitulava “A verdade sobre Joana d’Arc: refutação das teorias de Anatole France, Thalamas H. Bérenger, etc. Reabilitação da donzela d’Orleans”. Neste tempo Joana d’Arc era vista de duas distintas formas, como uma visionária e santa pela Igreja Católica ou como uma histérica pelos materialistas anticlericais. Leon Denis sustenta a tese de que a donzela era médium, nem santa, nem histérica. O livro só alcança repercussão em 1912 quando é publicado como Joana d’Arc, Médium.



O GRANDE ENIGMA - 1911 - Dirigindo-se aos leitores Denis conta que iniciou esta obra após ter ouvido uma voz que o inspirava a escrevê-la para demonstrar a todos “que a vida não é uma coisa vã, de que se possa usar levianamente, mas uma luta para a conquista do céu, uma obra elevada e grave de edificação, de aperfeiçoamento, uma obra que leis augustas e eqüitativas regem, acima das quais plana a eterna Justiça, temperada pelo Amor”. É constituída de duas partes: 1) Deus e o Universo; 2) O livro da natureza; A lei circular, a missão do século XX; Notas complementares. É uma apresentação em alto estilo poético e filosófico dos magnos problemas da vida, incutindo coragem e fé em seus leitores.



O MUNDO INVISÍVEL E A GUERRA - 1919 - Trata-se de uma coletânea de artigos publicados durante a primeira guerra mundial de 1914 a 1918. Denis apela para a fé, a resignação e a coragem dos franceses nos horrores da guerra.



RESPOSTA DE UM VELHO ESPÍRITA A UM DOUTOR EM LETRAS DE LYON (?) Brochura de 30 páginas trazendo respostas a uma ofensiva, em grande estilo lançada pelo clero católico.



ESPÍRITOS E MÉDIUNS (?) Essa monografia é mais uma contribuição de observações e de conselhos à mediunidade. Orienta como evitar as emboscadas dos espíritos mistificadores, dificultando-os no sentido de os desencorajar.



O ESPIRITISMO E AS CONTRADIÇÕES DA IGREJA (?) Trabalho de 18 páginas em defesa do Espiritismo contra os ataques da Igreja Católica.



SÍNTESE DOUTRINAL E PRÁTICA DO ESPIRITUALISMO (?) É uma pequena obra em forma de diálogo, onde Léon Denis começa pela pergunta mais simples: Quem sois? E vai se aprofundando até chegar ao conceito de Deus.



O GÊNIO CÉLTICO E O MUNDO INVISÍVEL-1917- É uma exaustiva e apaixonada pesquisa de Léon Denis a respeito das origens célticas da Franca, bem como dos costumes e religião desse antigo povo que tinha conhecimento das leis de reencarnação. Kardec já havia tratado desse assunto na Revista Espírita (abril de 1858), no artigo “Espiritismo entre os druidas”.



OS CONGRESSOS

A) 1889 Congresso Espiritualista Internacional-reuniu kardecistas; adeptos de Swedenborg, os teosofistas, os cabalistas, e os rosa-cruzes. “Um verdadeiro aeóropago.” Quando fazia uso da palavra o presidente do congresso Dr. Encause (Papus) defendendo o panteísmo e uma idéia de Deus oposto ao Deus cristão, o mesmo sentiu-se mal e Denis pediu a palavra e defendeu o Espiritismo que estava sendo muito atacado

Dizem que Allan Kardec tem sido muito econômico e deixou muito lugar em sua obra para idéias místicas e católicas. Isso não é exato. O Mestre poupou o Cristianismo e não o Catolicismo. Allan Kardec manteve a moral evangélica porque ela não é somente a moral de uma religião, de um povo, de uma raça, mas porque é a moral superior, eterna, que reconstruiu e haverá de reconstruir tanto as sociedades terrenas como as sociedades do Espaço”.

B) Congresso Espiritualista de 1900 - Era um encontro de espiritualistas de todas as correntes. Léon Denis foi nomeado presidente efetivo. Faz uma explanação da característica particular do Espiritismo, bem como da contribuição do Espiritismo para a ciência e a educação Esclarece que a Doutrina Espírita não é contra nenhuma religião e que todos juntos devem expandir a divulgação do Evangelho e buscar extirpar o materialismo. No decorrer do congresso foram levantadas várias objeções sobre a tese da reencarnação e Léon Denis, baseando-se nos ensinos das velhas religiões do oriente e nas tradições da sabedoria antiga e nas instruções do kardecismo faz brilhante defesa. Ataques foram feitos a Doutrina Espírita e sempre com eloqüentes discursos Denis faz a defesa. Também faz a defesa da visão Espírita de Deus, pois alguns influentes membros do congresso queriam tirar o conceito de Deus das doutrinas espiritualistas. A figura de Denis foi solidificada como expositor com firmeza, bom-senso, prudência, aliados a uma fé vibrante e firme e portador de grande simplicidade.

Congresso de Liège - 1905 Léon Denis foi seu presidente de honra. Destaca a importância de congressos, pois é um momento de convivência de espíritas de diferentes regiões para estreitar os laços de solidariedade entre as pessoas e as Federações. Faz importante avaliação dos 50 anos da Doutrina: “Creio poder dizer que o Espiritismo foi chamado para se tornar o grande libertador do pensamento, há tantos séculos escravizado. A magnífica obra do Espiritismo será aproximar os homens, as nações, as raças, formar corações e desenvolver as consciências. Mas para isso, é preciso trabalho, perseverança, espírito de devotamento e sacrifício. ... Somos impacientes porque a vida é curta. Todavia, já podemos dizer que o Espiritismo tem feito muito mais em 50 anos que qualquer outro movimento do pensamento, não importa em qual época da história... Faz 50 nos que os espíritas sabem o que a ciência pretende hoje descobrir.” “O esplêndido esforço do além para tirar da alma humana suas dúvidas, suas vergonhas, suas lepras, suas doenças morais, a fim de obrigá-la a tomar consciência de si mesma, de suas energias ocultas, para forçá-la a realizar seu destino glorioso pela comunhão das almas que se chamam e se respondem através da imensidão.”

Congresso Espírita Universal – Bruxelas de 14 a 18 de maio de 1910. Léon Denis foi delegado da França e do Brasil e recebeu saudação especial do presidente do congresso. Embora sendo um congresso dito espírita o Kardecismo foi deixado um pouco na penumbra. Foi destaque deste congresso a questão do ensino e o papel educador da mulher. Léon Denis apresenta e é aprovada a proposição de moralização de grupos que trabalham com o fenômeno mediúnica principalmente àqueles que se dedicam aos fatos físicos, transportes e materializações visto a existência de fraudes que denigrem o trabalho de médiuns honestos e desinteressados. A conferência “A missão do século XX” causou forte impressão nos presentes.

2° Congresso Espírita Universal –Genebra-maio de 1913, promovido pela Sociedade de estudos Psíquicos de Genebra. Foi presidido por Charles Piguet que dividiu a tarefa com Léon Denis e Gabriel Delanne. Em uma de suas exposições, sempre pautadas pelo esforço de divulgar as bases da Doutrina Espírita, Denis afirma: “O grande mérito do Espiritismo é também ter dado mais apreço à vida e ter mostrado que ela é o instrumento indispensável à nossa elevação, ao nosso progresso, à nossa grandeza futura... Eis o que o Espiritismo tem feito. Ele transforma a vida em uma coisa sagrada, mostrando seu fim nobre e generoso, seu fim sublime. É, pois pelo fim moral que o Espiritismo triunfa...” Nesse congresso Delanne e Denis enfrentaram a polêmica questão sobre mediunidade, pois Delanne defendia que o médium devia ser preparado em “escolas de médiuns” e os opositores defendiam a tese do que se convencionou chamar de “boa psicose” que para eles significava mais sujeição que livre arbítrio. Depois do discurso de Delanne, Denis faz a seguinte colocação: “Minha opinião é que o homem é livre, na medida que desejar ser e na medida em que se esforça para se tornar mais livre, libertando-se das falsas sugestões, das influências materiais, de todas as paixões, dos erros e da ignorância. O homem é livre pelo nascimento e por natureza e nenhum sofisma destruirá jamais sua liberdade, porque a liberdade é a dignidade de sua vida, de seu valor moral e de seu futuro, porque, se não formos livres, como poderemos entender o futuro? Não teremos nem mesmo a idéia desse porvir, nem a capacidade de compreendê-lo. Se o Espiritismo estendeu ao infinito os horizontes da vida, se ele pôs em destaque as forças ocultas do ser, se ele nos ensinou a utilizá-la, afirmo que não foi para nos reduzir a um papel passivo, não foi para nos curvar sob influências opressoras, mas foi para nos ensinar a conquista, por nós mesmos, uma liberdade cada vez maior, uma situação sempre mais elevada, um papel e missões cada vez mais nobres e mais generosas.”

3° Congresso Espírita Internacional -1925-Paris. Encontrava-se em idade avançada e seu estado de saúde era delicado, portanto recusa o oferecimento para que presidisse o congresso, entretanto um apelo de seu guia Jerônimo de Praga e uma mensagem de Allan Kardec o fazem aceitar. Fica hospedado na casa de Srta. Chaise que havia sido sua secretária. Reuniu representantes de 24 países e a cobertura jornalística foi feita por 60 jornais. A proposta do congresso era debater “o caráter científico do Espiritismo Experimental e, bem como o alcance moral e social da Doutrina Espírita no desenvolvimento da fraternidade humana”. Denis estabelece a diferença entre os metapsiquistas e os espíritas, os primeiros vêem a matéria os segundos acima de tudo inspiram-se nas leis do Espírito. Outro importante alerta é feito por Denis com relação ao intercâmbio entre o mundo visível e invisível, pois assim como aqui na Terra lá também há espíritos levianos, mistificadores, pouco evoluídos e sofredores que podem trazer confusão à tarefa mediúnica. Neste congresso Denis também foi representante do Brasil.

Nota: No livro Seara bendita (Espíritos diversos) vamos encontrar o relato de uma reunião ocorrida no plano espiritual após o encerramento do Congresso Espírita de Goiânia -1999 onde o Dr Bezerra faz uma palestra para um grupo de Espíritos no qual aborda os três períodos do Espiritismo: Consagração das origens e das bases; Tempo de proliferação, Terceiro Portal. Em relação ao primeiro período faz a seguinte colocação: “A primeira etapa consagrou o Espiritismo como ideário do bem, atraindo a simpatia e superando preconceitos... Os primeiros setenta anos do Espiritismo constituíram o período da consagração das origens e das bases em que assentam a Doutrina que lhe conferiu legitimidade. Heróis da tenacidade e fibra moral, dispostos a imolar-se pela causa, venceram os preconceitos do tempo e a pressão da inferioridade humana no resguardo e defesa da empreitada de Allan Kardec. O último lance que delimitou esse período foi o Congresso Internacional de Espiritismo realizado em Paris onde o arauto do bem, Léon Denis, suportou a lâmina sutil da mentira e consolidou o perfil definitivo do Espiritismo como Doutrina dos Espíritos eximindo-a de desfigurações que em muito prejudicariam sua feição educativa e conscientizadora.”



CONCLUSÕES:

I. Pelo momento histórico e pela atuação de Léon Denis no cenário social podemos constatar que o zelo de Jesus pela doutrina se fez manifesto, através desse missionário, permitindo vislumbrar que a presença de mensageiros do Senhor sempre estiveram e sempre estarão conosco.

II. Léon Denis, embora missionário, não recebeu privilégios tendo ao longo de sua vida as vicissitudes de homens comuns.

III. Apesar das muitas atividades e de seu estado de saúde frágil mostra-se compromissado com os espíritas brasileiros conforme pudemos constatar em sua biografia.

IV. A maior homenagem que podemos prestar-lhe neste mês de seu aniversário é o estudo e a divulgação de sua obra.

V.

Referências

BAUMARD, C. Léon Denis na intimidade. Tradução de Wallace Leal V. Rodrigues. Matão: O Clarim, 1982. 300p. Tradução de Léon Denis intime

CARVALHO, A.C.P. Bicentenário reúne espíritas em Paris. Revista Internacional do Espiritismo, Matão, v.74, n. 9,p.494-5,out.2004

GASTON, L. Léon Denis - o apóstolo do espiritismo: sua vida, sua obra. 2ed. Tradução de José Jorge. Rio de Janeiro: CELD, 2003.501p. Tradução de Léon Denis, l’apótre du spiritisme, sa vie, son oeuvre.

JORGE, J. Allan Kardec no pensamento de Léon Denis. Rio de Janeiro: Centro Espírita Léon Denis, 1978. 47p.

LÉON DENIS, apóstolo do espiritismo, Reformador, Rio de Janeiro, v.95, n.1777, p.7-10, abril 1977.

PEREIRA, C. Atitudes de Amor. In: OLIVEIRA, M.J.S.; OLIVEIRA, W.S. Seara Bendita. Belo Horizonte: INEDE, 2000.p.39-55.

QUEM somos: biografia de Léon Denis. Disponível em:< http://www. celd.org.br>. Acesso em 15 out. 2004.

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