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Espiritismo Literatura e Leitura 22/12/2004 (00061)
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Aprendendo A Ler O Mundo - Albino A. C. de Novaes


1- Ler o mundo significa interpretar, ou seja, dar significado a uma série de acontecimentos que invadem nosso dia a dia. A leitura nesse sentido passa a ser uma atividade bastante ampla: é efetuada toda vez que lemos um significado em algum acontecimento, alguma atitude, algum texto escrito, comportamento, quadro, mapa e até nas gracinhas de um cachorro.
2- Ao ligarmos cada informação às nossas experiências anteriores, encontramos o significado dos acontecimentos. Todos os nossos sentidos – o olfato, a visão, o paladar, a audição, o tato e a cinestesia (capacidade de sentir o espaço através dos nossos movimentos) estão constantemente nos fornecendo inúmeras informações a respeito do mundo. Basta que prestemos atenção a elas.
3- Nesse ponto, podemos ampliar, também, o conceito de texto: em latim, texto significa “tecido” e é entendido como qualquer significado articulado através de uma linguagem determinada. Um quadro pode ser um texto, pois tem um significado articulado através da linguagem da pintura (linguagem pictórica). Um filme, além do texto verbal dos diálogos, apresenta um texto visual, constituído pelas imagens que se sucedem na tela. O mesmo acontece com a televisão.
4- Essa tarefa de leitura, de atribuição de significados, depende da vivência de cada leitor, porque é essa vivência que faz cada um de nós observar o mundo de uma forma diferente da dos outros. Toda leitura depende de nossas experiências, idade, sexo, pais, época em que vivemos, classe social a que pertencemos, enfim, de nossa história de vida.

EXPERIMENTO - 1: O que você lê nos textos abaixo? Que tipo de leitura faz? O que há de mais no texto?

TEXTO - 01: "(...) Jesus vinha de coração luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão dos seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulhos das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do orbe terrestre. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniquidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.

- Helil - disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregados dos problemas sociológicos da Terra - meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Cains desvairados."

TEXTO - 02: "-Todavia - replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer a impressão dolorosa e amarga do Mestre ? esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nessas experiências penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos Lugares Santos.

TEXTO - 03: "- Mas- retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro ? qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recôndita que sejam, paira a benção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas (...).
A amargura divina empolgara todo a formosa assembléia de querubins e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão do ambiente, dirigiu-se a Jesus com brandura e humildade:

- Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham irremediavelmente para os grandes infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardam a semente de uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade.

TEXTO - 04: " (...) Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando a beleza do sublimado espetáculo.

-Helil - pergunta ele- onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?

-Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se vêem, no mundo, as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul (...)

- " Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor (...).

(Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho)

5- Destacamos dois tipos de leitura que podemos fazer de um texto verbal escrito: a leitura por prazer e a leitura crítica.

LEITURA POR PRAZER: é a leitura subjetiva, que nos empolga, liberando emoções e dando asas à nossa fantasia. Entregamo-nos de corpo e alma ao universo criado pelo autor, seja ele imaginário ou real, viajando no tempo e no espaço, experimentando prazer e angústia. Nós nos colacamos no lugar do narrador ou de alguma personagem, na situação em que se encontra, e nos solidrizamos com seus sentimentos e atitudes. Durante esse processo de identificação, participamos da vida afetiva alheia e liberamos emoções que, muitas vezes, não nos permitimos ter na vida real.

Nesse tipo de leitura, o único critério de avaliação usado é o da preferência: gostamos ou não do text, dependendo de motivos pessoais ou de características do texto que não são definidas.

Mas, em algum momento, pode acontecer estabelecermos relações entre a nossa vivência, o nosso mundo e aquele mostrado no texto. Ao fazer isso, estaremos não só atribuindo significado ao texto lido, mas também à nossa vida e à nossa realidade. Estaremos, então, fazendo uma dupla leitura: a do texto e a da nossa própria realidade.

6- LEITURA CRÍTICA: esse tipo de leitura exige uma compreensão mais abrangente do texto e mobiliza, além do sentimento, as capacidades racionais do leitor, como por exemplo, a capacidade de analisar o texto, separar suas partes, estabelecer relações entre elas e outros textos, sintetizar a idéia do autor, ir mais além ...

Estabelecemos um diálogo com o texto fazendo perguntas que nos levem a compreender sua forma de criação e seus significados mais profundos. Os textos, em geral, não são construções transparentes, não nos entregam totalmente os seus significados logo numa primeira leitura. Temos, na verdade, de conquistar o texto, respeitando suas características próprias que o fazem diferente dos demais.

7- QUAL A IMPORTÂNCIA DE UMA LEITURA CRÍTICA? O QUE É CRÍTICA?

A DENOTAÇÃO é o primeiro nível de leitura crítica de um texto. Visa a compreensão do sentido mais literal, direto e superficial do texto: consiste em fazer um levantamento de informações adicionais (vocabulário, dados sobre o autor, situações histórica e finalidade para a foi escrito o texto); procura da idéia central do texto; autores, teorias, obras e eventos comentados no texto que nos são desconhecidos; análise do desenvolvimento do raciocínio do autor - como o autor trata a idéia central do texto. É um ensaio sobre determinado assunto? De onde ele começa e quais as idéias, arumentos e fatos que usa para sustentar seu raciocíno? Que conclusão chega?

No momento em que conseguimos perceber como o autor montou seu texto, nós entramos na posse de sua estrutura lógica, revelada pelo encadeamento das idéias que devem desembocar na conclusão.

8- A INTERPRETAÇÃO: é o segundo nível da leitura crítica. Procura os significados não explícitos, escondidos, ou seja, os significados conotativos ou figurados. Perguntamos: Por que o autor quer mostrar ou demonstrar com esse texto? Quais os valores que nele aparecem? Como as idéias apresentadas e o ponto de vista assumido se ligam à época da produção do texto? Qual a relação do texto com o atual contexto histórico e social? O que influenciou a produção do texto?

Enfim, é nesse nível que vamos analisar mais a fundo os diversos elementos que compõem o texto, examinando as relações que eles mantêm entre si e como cada um influencia o outro. É nesse nível, também que cruzamos idéias e valores presentes no textoo com a situação histórica e social da época em que foi escrito e, às vezes, até com a biografia do autor. Ao fazer isso, podemos inclusive, avaliar o significado das idéias apresentadas no texto na época de sua criação. Avaliamos o grau de novidade que ele apresentou.

9- ANÁLISE CRÍTICA: é o terceiro nível da crítica. Não a critica gratuita, baseada no gosto e na opinião individual, subjetiva, mas aquela que surge do nosso entendimento da proposta do próprio texto. Podemos verificar se o autor atinge ou não os objetivos a que se propõe, se é claro, coerente, se sua visão é original e se traz alguma contribuição para o assunto abordado.

Trata-se da crítica objetiva, que não depende do nosso gosto e que está fundamentada em aspectos do próprio texto. Não necessariamente uma crítica negativa, pois peermite apontar também os aspectos positivos do texto.

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