Supõe-se que Sócrates tenha iniciado sua atividade pública de educador já em idade madura. Seu magistério tinha caráter popular e educativo. Poderíamos sempre encontrá-lo nas ruas de Atenas, na praça pública, no ginásio, no mercado, em casa de amigos, no atelier do sapateiro Simão. A ninguém desprezava. A todos pretendia ensinar e com todos, aprender. Tomava sempre o caminho mais curto, o dos interesses comuns, para chegar ao que o interessava diretamente: o espírito. Conversava, portanto, sobre assuntos aparentemente triviais com toda espécie de pessoas: ferreiros, sapateiros, cortesãs, flautistas, políticos ou sábios.
Sua figura logo se tornou popular em Atenas. Seu aspecto externo já era em si mesmo motivo de curiosidade: nariz achatado, olhos salientes, cabeça calva, estômago proeminente -- a figura exata de um sileno, um sátiro velho, segundo comparação feita nas duas versões de O Banquete, a de Platão e a de Xenofonte. Como os silenos trazem dentro de si a imagem de uma divindade, também Sócrates possuía algo misterioso que se sobrepunha às suas qualidades físicas e à maneira pobre de se vestir; algo que atraía os ouvintes e dava à sua linguagem uma eloqüência e um vigor extraordinários.
As Três Peneiras de Sócrates
Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
— Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
— Espera — disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
— Três peneiras? Que queres dizer?
— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
— Devo confessar que não.
— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
— Útil? Na verdade, não.
— Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.