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Espiritismo Literatura e Leitura 30/11/2004(00027)
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Ludwig Josef Johann Wittgenstein (1889-1951) (Áustria Áustria) ( filosofia )



Wittgenstein



A revolução na lógica matemática, no início do século 20, oferecia uma perspectiva tentadora: a criação de uma ciência dos significados. A lógica prometia aliar a razão ao significado de frases e textos -- da filosofia às demonstrações de geometria, da história ao direito. A idéia era reduzir essas disciplinas aos seus átomos lógicos para, em seguida, mostrar como as partes se conectavam umas às outras -- em uma linguagem ideal -- a fim de compor todos os possíveis significados.
Em sua época de estudante de engenharia na Inglaterra, o austríaco Ludwig Wittgenstein foi aluno do filósofo Bertrand Russell (* 1872 † 1970) (Grã-Bretanha Grã-Bretanha) (Nobel de Literatura em 1950), cuja obra monumental, Principia Matematica (1913), em co-autoria com Alfred North Whitehead, era uma tentativa de reduzir a matemática à lógica. O primeiro livro de Wittgenstein, publicado em 1922, com o grandioso título de Tractatus Logico-philosophicus, era uma obra ainda mais ambiciosa. Segundo seu autor e seus admiradores, deveria marcar o fim da filosofia.


Wittgenstein retornou à Áustria para ser professor numa escola. Em 1929, porém, voltou à Inglaterra para declarar que havia se equivocado anteriormente. Esse «novo Wittgenstein" passou os 18 anos seguintes agonizando como líder de um pequeno grupo de estudos em Cambridge. Perfeccionista obsessivo, Wittgenstein escrevia e reescrevia seus textos, e sua segunda obra-prima, Investigaçôes Filosóficas, só seria publicada postumamente, em 1953. Ambos os livros serão leitura obrigatória ainda por muito tempo.

O Tractatus começa indo diretamente ao assunto:

"o mundo consiste de fatos"

O que significa, explica ele, que o mundo "é a totalidade de fatos, não de coisas".

Se você não consegue ver a diferença, é o seguinte: "Fatos" são afirmações verdadeiras sobre coisas. Uma cadeira é uma coisa; a afirmação "a cadeira é vermelha" é (ou pode ser) um fato. O "mundo" como o conhecemos é simplesmente a reunião de fatos conhecidos -- o que "acontece" -- e não de coisas distintas daquilo que podemos dizer sobre elas. É a linguagem que constrói nosso senso de mundo, nosso meio e nossas experiências. O que não podemos dizer não podemos conhecer; "sobre o que não conseguimos falar, devemos silenciar".

As proposições de Wittgenstein influenciaram profundamente um grupo de jovens filósofos conhecidos como "positivistas lógicos" -- os que acreditavam, como Hume, que tudo o que não seja auto-evidente ou empiricamente demonstrável é mero contra-senso. (No entendimento deles, literatura, arte e a metafísica visionária não passam de "contra-senso".) Porém, embora eles tivessem adotado Wittgenstein, Wittgenstein não os adotou. Pois, mesmo achando que a filosofia devia se restringir aos "fatos", ele permaneceu obcecado por silêncios e realidades não demonstráveis. O que não é real pode ser nonsense, mas até onde Wittgenstein estava interessado, nonsense é muito interessante. O pensamento de Wittgenstein evoluiu entre o Tractatus e a obra póstuma Investigações Filosóficas (1953), que recolhe as conferências dadas por ele em Cambridge. De fato, ele quase abandonou muitos de seus pontos de vista anteriores, tais como quando ele afirma que "os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo". Como muitos filósofos da linguagem, Wittgenstein, quando jovem, tratou as palavras como indicadores ou símbolos das coisas no mundo. Mas, na maturidade Wittgenstein considerou que toda essa ênfase na referência era simplista demais.

Em Investigações Filosóficas (1953) Wittgenstein oferece um novo ponto de vista: o significado das palavras não depende daquilo a que elas se referem, mas de como elas são usadas. A linguagem, dizia ele, é um tipo de jogo, um conjunto de peças" ou "equipamentos" (palavras) que são usadas de acordo com um conjunto de regras (convenções lingüísticas). Como no Tractatus, o mundo é construído a partir de proposições, ou proposições potenciais, mas agora a ênfase recai menos no que as afirmações "significam" (denotam) do que em como elas se desenvolvem dentro de um contexto e um conjunto de regras.

Segue-se disso que o conhecimento não consiste em descobrir (ou inventar) alguma "realidade" que corresponda ao que falamos, mas sim em estudar o modo como a fala funciona. Assim sendo, a linguagem comum é o sujeito apropriado da filosofia. Problemas filosóficos tradicionais, relativos a conceitos tais corno "ser" e "verdade", são meramente confusões que surgem a partir do jargão filosófico e a tentativa equivocada de descobrir a "realidade" que ele supostamente "representa".

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Quando Wittgenstein retornou à filosofia, em 1929, ele trazia a mensagem de que os métodos da lógica pura não podiam dar conta dos problemas filosóficos. Onde antes tinha se mostrado a favor de regras lógicas explícitas, agora Wittgenstein falava em jogos de linguagem, regidos por uma tácita compreensão mútua. Propunha substituir os estreitos limites da teoria dos conjuntos pelo que chamou de retratos familiares. "A filosofia é a batalha contra o encantamento de nossa inteligência por meio da linguagem», declarou.
Em 1939, seu seminário sobre os fundamentos da matemática contou com a participação de Alan Turing, um jovem e brilhante matemático, que também havia se entusiasmado com as promessas da lógica e, mais tarde, percebido suas limitações. Mas, em sua demonstração formal de que o sonho de transformar toda a matemática em lógica era algo impossível, Turing terminou criando um dispositivo puramente conceitual (conhecido hoje como Máquina Universal de Turing) que proporcionou as bases lógicas para o computador digital. Embora o sonho de Wittgenstein de uma linguagem universal ideal tenha desmoronado, o dispositivo de Turing atingiu um tipo diferente de universalidade: ele podia processar todas as funções matemáticas computáveis. O que Turing percebeu -- e Wittgenstein não viu - foi a importância do fato de que um computador não precisa entender as regras para segui-las. Turing nos deixou o computador, enquanto Wittgenstein deixou... Wittgenstein. O primeiro contato que se tem com o seu trabalho -- seja com o Tractatus, seja com as Investigações Filosóficas -- continua sendo uma experiência liberadora e divertida. Ludwig Wittgenstein oferece um modelo de pensamento tão intenso, puro e autocrítico, que até mesmo seus erros podem ser considerados dádivas.

Fontes: Michael Macrone (Eureka!) - Daniel Dennett (Time Magazine)

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