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Espiritismo Literatura e Leitura 27/11/2004(00020)
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Certas pessoas não admitem a prece pelos mortos, porque, na sua crença, não há para a alma senão duas alternativas: ser salva ou condenada às penas eternas, e, num e noutro caso, a prece é inútil

De que forma a prece beneficia os mortos e os espíritos sofredores

Em suas sessões, Allan Kardec observou que são os próprios espíritos sofredores que reclamam preces. Segundo dizem, ela lhes é útil porque vendo que pensam neles, sentem-se menos abandonados, menos infelizes.

Mas a prece tem sobre eles uma ação mais direta: "reergue-lhes a coragem, excita-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela não só pode aliviar, mas abreviar seus sofrimentos", explica o Codificador do Espiritismo.

Seria lógico, caridoso e cristão negar a eficácia da prece pelos mortos?

Há quem não admita a prece pelos mortos, porque, na sua crença, não há para a alma senão duas alternativas: ser salva ou condenada às penas eternas, e, num e noutro caso, a prece é inútil.

Allan Kardec, sem discutir o valor dessa crença, reflete na inconsistência dessa afirmação, esclarecendo o seguinte:

"Admitamos por um instante a realidade das penas eternas e irremissíveis, e que as nossas preces sejam impotentes para lhes pôr um termo. Perguntamos se, nessa hipótese, é lógico, caridoso e cristão rejeitar a prece pelos condenados?

"Essas preces, por impotentes que sejam para os livrar, não são, para eles, um sinal de piedade que pode dulcificar seu sofrimento?

"Sobre a Terra, quando um homem é condenado perpetuamente, no caso mesmo que ele não tenha nenhuma esperança de obter graça, é proibido a uma pessoa caridosa ir sustentar suas correntes para lhe aliviar o peso?

"Quando alguém está atacado de um mal incurável, porque não oferece nenhuma esperança de cura, é preciso abandoná-lo sem nenhum alívio?

"Imaginai que, entre os condenados, pode se encontrar uma pessoa que vos foi cara, um amigo, talvez um pai, uma mãe ou um filho, e porque, segundo vós, não poderá esperar sua graça, lhe recusaríeis um copo de água para estancar-lhe a sede? Um bálsamo para secar-lhes as feridas?

"Não faríeis por ele o que faríeis por um prisioneiro?

"Não lhe daríeis um testemunho de amor, uma consolação?

"Não, isso não seria cristão. Uma crença que resseca o coração não pode se aliar com a de um Deus que coloca, em primeiro lugar entre os deveres, o amor ao próximo."

Negar a prece aos espíritos sofredores, seria negar-lhes consolação, encorajamento e bons conselhos

Prossegue o Codificador: "A não eternidade das penas não implica a negação de uma penalidade temporária, porque Deus, na sua justiça, não pode confundir o bem e o mal. Ora, negar, nesse caso, a eficácia da prece, seria negar a eficácia da consolação, do encorajamento e dos bons conselhos. Seria negar a força que se haure na assistência moral daqueles que nos querem bem."

Deus pode mudar suas decisões a pedido de suas criaturas?

Há ainda uma outra categoria de pessoas que se fundamentam numa razão mais especiosa: a imutabilidade dos decretos divinos. Deus, dizem eles, não pode mudar as suas decisões a pedido de suas criaturas; sem isso nada seria estável no mundo. O homem, pois, nada tem a pedir a Deus, não tem senão que se submeter e adorá-lo.

A esse pensamento, propõe Allan Kardec: "Há, nessa idéia, uma falsa aplicação da imutabilidade da lei divina, ou melhor, ignorância da lei no que concerne à penalidade futura. Essa lei é revelada pelos Espíritos do Senhor, hoje que o homem está maduro para compreender o que, na fé, está conforme ou contrário aos atributos divinos.

O homem é punido sempre em conseqüência das suas faltas

"Segundo o dogma da eternidade absoluta das penas, ao culpado não se tem em conta seus remorsos e seu arrependimento; para ele, todo desejo de se melhorar é supérfluo e está condenado a permanecer perpetuamente no mal. Se está condenado por um tempo determinado, a pena cessará quando esse tempo tiver expirado; mas quem diz que, então, terá mudado para melhores sentimentos? Quem diz que, a exemplo de muitos condenados na Terra, na sua saída da prisão, não será tão mau quanto antes? No primeiro caso, seria manter na dor do castigo um homem que retornou ao bem; no segundo, agraciar aquele que permaneceu culpado. A lei de Deus é mais previdente que essa; sempre justa, equitativa e misericordiosa, não fixa nenhuma duração à pena, qualquer que seja; ela se resume assim:

"O homem suporta sempre a conseqüência das suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que não tenha punição.

A severidade do castigo é proporcional à gravidade da falta

"A duração do castigo, para qualquer falta, é indeterminada e está subordinada ao arrependimento do culpado e seu retorno ao bem. A pena dura tanto quanto a obstinação no mal, e seria perpétua se a obstinação fosse perpétua, de curta duração se o arrependimento chega logo.

"Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe envia a esperança. Mas o simples remorso do mal não basta, pois é preciso a reparação. Por isso, o culpado é submetido a novas provas, nas quais pode sempre, por sua vontade, fazer o bem em reparação ao mal que fez.

"O homem é, assim, constantemente, o árbitro de sua própria sorte, podendo abreviar seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade, ou sua infelicidade, dependem da sua vontade de fazer o bem."

"Tal é a lei; lei imutável e conforme a bondade e a justiça de Deus."

Deus nos permite participar de sua lei de amor através da prática da caridade

Para os espíritas, a prece em benefício dos infelizes de mais além é sempre motivo de grande respeito e dedicação, pois, acima de tudo, é oportunidade para que ele participe do amor divino, através do prática do bem, conforme ensina Allan Kardec:

"O Espírito culpado e infeliz pode, assim, sempre salvar-se a si mesmo: a lei de Deus lhe diz em que condições pode fazê-lo. Freqüentemente, o que lhe falta é a vontade, a força, a coragem; se, por nossas preces, nós lhe inspiramos essa vontade, se o sustentamos e encorajamos; se, por nossos conselhos, nós lhe damos as luzes que lhe faltam, ao invés de solicitar a Deus a derrogação da sua lei, nos tornamos instrumentos para a execução da sua lei de amor e de caridade, na qual ele nos permite, assim, participar dando, nós mesmos, uma prova de caridade. (Veja, O Céu e o Inferno, 1ª parte, cap. IV, VII, VIII)

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