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Thomas Hobbes (1588-1679)

Filósofo moderno, um dos representantes do empirismo inglês. Nasceu em Westport, Inglaterra, filho de família pobre. Iniciou seus estudos com Robert Latimer, consolidando uma cultura voltada para as letras clássicas. Estudou em Oxford, até 1608. Na qualidade de preceptor do filho de William Cavendish, viajou por Itália e França.

Entre 1621 e 1629, trabalhou como secretário de Francis Bacon (1561-1626), fato que consolidou sua vocação filosófica. Novamente a serviço de Lorde Cavendish, entre 1634 e 1637, Hobbes empreendeu nova viagem pela França e Itália, onde teve a oportunidade de encontrar-se com Galileu.

Em Paris, neste mesmo período, sustentou, através de cartas, uma polêmica com Descartes (1596-1650), por intermédio do Padre Marsenne. Em 1640, de volta à Inglaterra, opôs-se a Cromwell, em defesa da monarquia de Carlos I. Refugiando-se na França, iniciou intensa atividade intelectual, escrevendo várias obras e mantendo várias controvérsias, de caráter político e religioso.

Foi preceptor do Príncipe de Gales, futuro monarca Carlos II, da Inglaterra, que se encontrava no exílio. Em 1652, suas opiniões políticas provocaram sua ruptura com a corte inglesa em Paris. Retornando à Inglaterra sob o regime de Cromwell, retomou sua produção filosófica, estabelecendo-se na residência de seu antigo pupilo Cavendish, então conde de Devonshire.

Com a restauração da monarquia inglesa, passou a receber uma pensão de Carlos II, o que lhe permitiu viver inteiramente dedicado a sua obra. Esta é extensa e variada, constando de escritos literários, de filosofia, teológicos, eclesiásticos, políticos e matemáticos. Alguns de seus títulos: Elementos da lei natural e política, Natureza Humana, Sobre o corpo político, Sobre o cidadão, Leviatã, Sobre o corpo, Sobre o homem.

Para Hobbes, a realidade possui um único princípio: ela se compõe de corpos em movimento. Polemizando com a filosofia cartesiana, Hobbes afirma que admitir o “eu penso” é admitir uma coisa pensante, sendo que esta somente pode possuir natureza corporal. Para este filósofo, que se opõe radicalmente à concepção dualista de Descartes (1596-1650), o espírito deve ser encarado como um movimento oriundo do corpo orgânico e material.

Para tal compreensão mecanicista da realidade, existir é ser no espaço; logo, é estar sujeito, como corpo, às leis que regem o movimento. Partindo deste pressuposto, seu pensamento se estrutura como uma física, que possui como tarefa a investigação de duas espécies de corpos: os naturais e os sociais.

Estes últimos, por sua vez, podem ser encarados de dois modos distintos: desde os elementos constituintes do corpo social - os homens, suas paixões e afecções, o que constitui uma ética ; ou desde os próprios corpos em questão - as sociedades, sua história e constituição, o que engendra uma investigação política.

Hobbes encara o problema do conhecimento humano a partir das sensações, movimento pelo qual os entes sensíveis afetam o corpo humano. Dos órgãos dos sentidos, parte um movimento em direção ao cérebro e, então, ao coração; deste órgão, tem início um movimento de reação, que é o que denominamos, propriamente, sensação.

Das imagens (denominadas por este filósofo fantasmas) dos entes singulares, produzida a partir das sensações, originam-se os nomes ou conceitos universais. O conhecimento, assim, é encarado como uma combinatória destes nomes, ou, para falar com Hobbes, um cálculo, que consiste em adições e subtrações de signos, de maneira que a ciência pode ser encarada como “conhecimento das conseqüências de uma palavra a outra”.

Deste modo, é possível afirmar que o empirismo de Hobbes se encontra associado a uma postura racionalista, bem como a uma concepção nominalista da questão do conhecimento.

No estudo dos corpos sociais, a contribuição de Hobbes é, igualmente, original. Em primeiro lugar, este filósofo caracteriza um estado natural, próprio à humanidade como um todo. Sendo intrínseco a todo homem o instinto de autoconservação, o homem é encarado como um ente eminentemente egoísta, que possui como objetivo último a satisfação de suas necessidades pessoais.

Assim, a convivência entre os homens processa-se ao modo de uma permanente disputa pelo melhor, marcada pelo desejo de alcançar sempre maior poder: o homem é o lobo do homem. Famosa é, ainda, outra expressão de Hobbes, que caracteriza igualmente esta inclinação: guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes), e o homem é o lobo do homem.

Faz-se necessário, para que a humanidade não pereça em uma guerra incessante, passar a um estado social, onde se estabeleçam contratos que garantam os direitos do próximo. As leis mantenedoras deste contrato, que prescreve uma convivência pacífica com o próximo, provém da elaboração racional como conclusões de caráter universal.

Contudo, para que se possa manter tais leis, é preciso um poder unificado, que paire acima dos diferentes grupos e interesses. Este poder é representado pelo absolutismo monárquico, uma vez que onde há mais que um indivíduo, há disputa e choques em função do poder. Este regime absoluto, no entanto, não se instaura por direito divino, mas segundo um pacto social, no qual a comunidade decide votar obediência a seu soberano.

Este, contudo, somente se efetua entre os súditos; o soberano não adere ao pacto, de modo que sua vontade é a única livre, capaz de legislar como melhor lhe aprouver. Desta forma, toda a autoridade, mesmo a religiosa, deve ser submetida ao poder temporal unificador. Esta, segundo Hobbes, é a única condição de se manter um estado forte e centralizado.

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Fonte: •Enciclopédia Digital 99 • ( Literatura e Leitura ) •