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Epicuro (341-271 a.C.)

Filósofo grego. Nasceu em Samos, e foi discípulo de Nausícrates, seguidor de Demócrito (460?-370? a.C.). Residiu em Atenas, Cólofon, Mitilene e Lâmpsaco. Nestas cidades, desenvolveu sua doutrina e travou amizade com aqueles que seriam posteriormente seus mais importantes discípulos.

Regressando a Atenas, em 306 funda sua escola, em uma casa com jardim comprada por ele. Devido a isto, a escola receberia sua denominação, Jardim. Esta escola ficaria famosa não só pelas doutrinas propagadas por Epicuro, mas igualmente pelo cultivo de um estilo de vida baseado na amizade e na observância à virtude.

Ao contrário das demais escolas suas contemporâneas, o Jardim seria composto não somente por homens, mas também por mulheres.

A obra de Epicuro foi estimada, na Antiguidade, em aproximadamente 300 volumes.Destes, chegaram até nossos dias quatro cartas, o testamento e um apanhado de quarenta Sentenças principais, conservadas por Diógenes Laércio (ver), além de fragmentos de sua obra Sobre a Natureza, bem como um conjunto de máximas conservadas em um manuscrito do Vaticano, denominado Florilégio vaticano.

Para Epicuro, a filosofia constitui a fonte primeira da felicidade, bem como o único caminho seguro de conquista da liberdade, uma vez que, através dela, pode-se espantar os maus desejos. O conhecimento tem por finalidade afastar o homem de perturbações, uma vez que não pode deixar de temer aquele que não compreende a natureza do todo.

Afastando-se dos erros de compreensão, especialmente acerca dos deuses, da morte, do bem e dos males, o homem alcança o supremo estado de felicidade, a ataraxia (ausência de perturbações, serenidade). A filosofia, perseguindo esta tarefa, pode ser dividida em três ramos principais: canônica, física e ética.

A canônica é a ciência que estuda o critério de verdade acerca da realidade. Segundo esta concepção, tal critério reside nas sensações, uma vez que são irrefutáveis e que todas as noções do pensamento se originam delas. O erro não se fundamenta na sensação, mas sim nos juízos que fazemos a respeito das sensações.

Em conformidade com a sensação, é inato a todo homem a posse de pré-noções, ou prolépsis, que configuram a compreensão do universal. Para perceber que determinado homem é louro, ou alto, não bastam as sensações; é preciso ter, por prolépsis, a compreensão do que seja homem, de modo que esta compreensão se conjugue com as sensações “alto” ou “louro” que ele provoca.

A física constitui o estudo do princípio que rege a totalidade constitutiva da realidade. Epicuro aparece, nesta perspectiva, como um continuador de Demócrito (460?-370? a.C.) e Leucipo, partidário de uma concepção atomista (ver Atomistas) da natureza. Ao afirmar que nada pode provir do nada, faz-se necessário postular o caráter composto dos corpos presentes na natureza.

O universo é um composto de corpo e espaço. A existência do primeiro é atestada por nossas sensações; a do segundo é uma decorrência necessária da existência dos corpos, uma vez que estes precisam de um lugar onde permanecer e onde mover-se. Os corpos são, pois, compostos de elementos, indivisíveis e imutáveis, denominados átomos (esta palavra grega que significa sem divisão).

Estes são sólidos, logo, de natureza corpórea, compostos de infinita variedade de formas, uma vez que não são gerados e deles provém todas as formas presentes na realidade. Os átomos movem-se incessantemente, afastando-se, chocando-se e entrelaçando-se, ao dar origem aos corpos de natureza composta.

O que promove este movimento é o vazio no qual os átomos se encontram. O movimento natural dos corpos é a queda, que se dá devido ao peso encontrado em todo corpo. Se todos os átomos se movessem desta forma, não haveria encontros entre eles, donde não se poderiam formar os compostos. Contudo, Epicuro (341-271 a.C.) afirma que os átomos podem sofrer pequenos desvios (em grego clinamen) em sua trajetória, o que possibilita os choques e entrelaçamentos entre eles.

A ética epicurista constitui importância capital no todo deste pensamento, uma vez que a filosofia se orienta pela busca de uma vida feliz. A felicidade, por sua vez, tem seu princípio no prazer. Contudo, Epicuro (341-271 a.C.) afirma como prazeres superiores aqueles que se manifestam como estabilidade e repouso, em contraposição aos prazeres que contém em si movimento, tais como gozo ou alegria.

Os prazeres almejados pelos epicuristas são, assim, fundamentalmente, a ausência de perturbações (ataraxia) e de males (aponia). Não se trata de um simples assentimento a todos os prazeres, uma vez que a maior parte deles acarreta maiores males; ao contrário, suportar algumas dores pode conduzir, posteriormente, a grandes prazeres.

É preciso avaliar dor e prazer segundo o critério dos benefícios e prejuízos que estes podem acarretar. É o uso do raciocínio que proporciona aos homens maior felicidade; deste modo, é da prudência, compreendida como a maior entre as virtudes, que se gera a maior felicidade, estando esta, por seu turno, ligada por natureza às demais virtudes.

Dos bens que podem advir do contato com os outros, o maior dentre eles reside na amizade. Esta nasce da utilidade, mas não se subordina a ela, uma vez que o mais necessário aos homens não é a ajuda real dos amigos, mas antes a confiança em receber esta ajuda.

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Fonte: •Enciclopédia Digital 99 • ( Literatura e Leitura ) •